sexta-feira, 28 de novembro de 2014

'Roda de Capoeira' recebe título de Patrimônio Imaterial da Humanidade

Inscrição foi aprovada na sede da Unesco, em Paris, nesta quarta (26).  Prática cultural nasceu no século XVII e simboliza identidade brasileira.

Capoeira é uma das principais demonstrações culturais da Bahia (Foto: Divulgação/Edgar de Souza)

A manifestação afro-brasileira conhecida como "Roda de Capoeira" recebeu na manhã desta quarta-feira (26), por meio da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), o título de Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade. 
Considerada internacionalmente como uma prática cultural multifacetada e multidimensional - que se manifesta como luta, dança, esporte e arte -, a "Roda de Capoeira" teve a inscrição para recebimento do título aprovada durante a 9ª Sessão do Comitê Intergovernamental para a Salvaguarda, que é realizada na sede da Unesco, em Paris. O evento começou na quarta-feira (24) e chega ao fim na sexta (28).
Com o recebimento do título, a "Roda de Capoeira" se junta ao Samba de Roda do Recôncavo Baiano (BA), à Arte Kusiwa- Pintura Corporal (AP), ao Frevo (PE), e ao Círio de Nazaré (PA), já reconhecidos como Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade no Brasil.
Em nota, a presidente do Iphan, Jurema Machado, disse que a aprovação da inscrição irá  promover o aumento da visibilidade da Roda de Capoeira e de outros bens culturais relacionados aos movimentos de luta contra a opressão, sobretudo àqueles pertencentes às comunidades afrodescendentes. "A roda de capoeira expressa a história de resistência negra no Brasil, durante e após a escravidão. Seu reconhecimento como patrimônio demarca a conscientização sobre o valor da herança cultural africana, que, no passado, foi reprimida e discriminada", disse Jurema Machado.Acompanharam o evento, a presidente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), Jurema Machado; a Diretora do Departamento de Patrimônio Imaterial (DPI-Iphan), Célia Corsino; além de capoeiristas brasileiros como os mestres Cobra Mansa, Pirta, Peter, Paulão Kikongo, Sabiá e a Mestra Janja.
Roda de Capoeira
Originada no século XVII, em pleno período escravista, a "Roda de Capoeira" desenvolveu-se como forma de sociabilidade e solidariedade entre os africanos escravizados, estratégia para lidarem com o controle e a violência. De acordo com o Iphan, a prática cultural é um dos maiores símbolos da identidade brasileira e está presente em todo território nacional, sendo praticada em mais de 160 países, em todos os continentes.

A Roda de Capoeira e o Ofício dos Mestres de Capoeira foram reconhecidos como patrimônio cultural brasileiro pelo Iphan em 2008, e estão inscritos no Livro de Registro das Formas de Expressão e no Livro de Registro dos Saberes, respectivamente.
FONTE:http://g1.globo.com/bahia/noticia/2014/11/roda-de-capoeira-recebe-titulo-de-patrimonio-imaterial-da-humanidade.html

quinta-feira, 20 de novembro de 2014

Top 10 filmes para entender o holocausto

Filmes como Olga, Bent e A Vida é Bela ajudam a entender o massacre do Nazismo sobre os judeus durante a Segunda Guerra Mundial.



O holocausto foi o genocídio em massa de cerca de seis milhões de judeus promovido pelos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial. O massacre liderado por Hitler ocorreu em diversos campos de concentração instalados nos territórios ocupados pela Alemanha, que se intitulava racialmente superior.

Muitos filmes retratam a perseguição aos soviéticos, homossexuais, deficientes, e - principalmente - judeus, que viviam em péssimas condições de vida, escravizados até a morte nos campos de concentração ou em constante fuga. Sendo assim, elaboramos uma lista com longas que exploram o holocausto e o contexto da guerra.

Olga (2004)

O longa-metragem dirigido por Jayme Monjardim narra a biografia de Olga Benário Prestes, uma militante alemã que é deportada para Alemanha durante o governo Vargas, após o fracasso da Intentona Comunista.

A jovem tem uma filha na prisão, fruto do relacionamento com o líder comunista Luís Carlos Prestes, sendo enviada para um campo de concentração, onde passa anos sofrendo maus tratos e termina morta na câmara de gás. Baseado em fatos reais, o filme tem Camila Morgado, Caco Ciocler, Osmar Prado e Fernanda Montenegro no elenco.

O Pianista (2002)
O filme conta a história do pianista judeu-polonês Wladyslaw Szpilman, que se depara com a invasão da Polônia pelos nazistas em 1939. Após escapar da ida ao Gueto de Varsóvia, que segregou cerca de 380.000 poloneses, Szpilman passa a se esconder em prédios abandonados e casas de amigos não-judeus, em busca de alimentos e proteção. Ele testemunha o levante de Varsóvia e escapa da morte por diversas vezes, até a derrota da Alemanha na Segunda Guerra.

Cena do filme O Pianista (2002) (Foto: G1)Cena do filme O Pianista (2002) (Foto: G1)
O longa de Roman Polanski foi indicado a sete categorias do Oscar, vencendo as de Melhor Diretor, Melhor Ator e Melhor Roteiro Adaptado. O filme estrelado por Adrien Brody também venceu a Palma de Ouro, no Festival de Cannes.

Noite e Neblina (1955)
O documentário de 1955, dirigido pelo francês Alain Resnais, retrata o holocausto através de imagens, documentos e dados que comprovam a participação da Alemanha na formação dos campos de concentração. Fortes imagens sobre os locais abandonados e os corpos dos judeus retorcidos aparecem durante os trinta minutos de filme, com o intuito de chocar a sociedade da época sobre o que aconteceu na Segunda Guerra Mundial.

Roupas dos judeus empilhadas em cena do documentário Noite e Neblina (1955) (Foto: Kubrickontheguillotine.com)Roupas empilhadas em cena do documentário Noite e Neblina (1955) (Foto: Kubrickontheguillotine.com)


O Menino do Pijama Listrado (2008)
A co-produção entre EUA e Reino Unido mostra a visão de mundo pela perspectiva de duas crianças durante a Segunda Guerra Mundial: uma ariana e outra de ascendência judia. Shmuel vive no campo de concentração em que o pai de Bruno, seu amigo, trabalha, e a amizade dos dois é posta à prova quando eles descobrem que são de etnias "inimigas".

Baseado no livro de John Boyne, o filme das crianças separadas por uma grade tem David Thewlis, Vera Farmiga e Rupert Friend no elenco e direção do inglês Mark Herman.

O Diário de Anne Frank (1959)

O drama de George Stevens, baseado numa peça de teatro, narra a vida de Anne Frank, uma judia de 13 anos que vive escondida no sótão de uma loja, junto com sua família. A jovem se apaixona por Peter Van Daan, um outro judeu que mora no mesmo local, e vive em meio ao risco de exposição, sonhando com uma vida melhor. A história de Anne Frank é verídica, vinda do diário que a menina escreveu durante o período que ficou escondida.

Cinzas de Guerra (2001)
O filme estrelado por David Arquette retrata a vida dos Sonderkommandos, judeus encarregados de conduzir outros colegas de prisão à morte e depois levar os corpos até a fornalha. Revoltados, o grupo planeja uma reviravolta: escondem uma sobrevivente dos nazistas e passam a planejar um contra-ataque, carregando armas em meio aos corpos que levam aos crematórios.

Com direção do norte-americano Tim Blake Nelson, o filme é baseado no levante ocorrido no campo de extermínio de Auschwitz, localizado ao sul da Polônia.

O Trem da Vida (1998)
No enredo da Segunda Guerra Mundial, em 1941, um vilarejo na Europa Ocidental recebe a notícia de que a invasão nazista se aproxima. A ideia dos habitantes é forjar a deportação dos judeus no trem, com alguns se passando por maquinistas e outros por alemães. O problema é que as encenações ficam realistas demais e os judeus começam a se rebelar contra os agora autoritários nazistas.

Dirigida por Radu Mihaileanu, a trama mostra de uma forma satírica como o ser humano é volúvel e acaba por incorporar um personagem. A comédia se diferencia de outros filmes da época por apostar na fantasia ao invés do realismo.

A Vida é Bela (1997)
O aclamado longa se passa na Itália, onde o amoroso Guido é levado a um campo de concentração junto com seu filho, mas faz com que o menino acredite que eles estão em um jogo, para poupá-lo do sofrimento.

A Vida é Bela (Foto: O Globo)A Vida é Bela (Foto: O Globo)

A comédia dramática retrata o holocausto de forma cômica, sem esconder as tragédias que aconteciam nos campos de concentração. O filme, com direção de Roberto Benigni, venceu três Oscars em 1999, incluindo o de Melhor Filme Estrangeiro.

Bent (1997)
Bent conta a história de Max, um homossexual que vive em um campo de concentração na Alemanha nazista. No entanto, ele se identifica como um judeu, usando uma estrela amarela. Por ironia do destino, Max se apaixona por Horst, que usa com orgulho o triângulo rosa que o identifica como gay.

O filme é baseado na peça de 1978, do dramaturgo norte-americano Martin Sherman e, para além do holocausto, aborda a intolerância sexual. Clive Owen, Lothaire Bluteau e Ian McKellen fazem parte do elenco do longa.

A Lista de Schindler (1993)
O filme narra a vida do alemão Oskar Schindler, que empregou mais de mil judeus em sua fábrica para salvá-los do holocausto. Antes mesmo de irem aos campos de concentração, os judeus eram contratados por Schindler para trabalhar em sua fábrica.

Após recusas de Polanski, Pollack e Scorsese, o filho de judeus Steven Spielberg aceitou fazer um filme retratando a história de Schindler. Além da família judia, um dos principais motivos para Spielberg assumir o controle do filme teria sido o genocídio étnico ocorrido durante a Guerra da Bósnia (1992 - 1995).


Baseado no romance de Thomas Keneally, o longa foi sucesso absoluto. O blockbuster recebeu sete prêmios do Oscar, incluindo Melhor Diretor, Melhor Filme, Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Fotografia, Melhor Direção de Arte, Melhor Edição e Melhor Trilha Sonora Original.

Todos esses filmes retratam, com diferentes abordagens, a perseguição sofrida pelos judeus. A segregação e as atrocidades cometidas no passado não podem ser esquecidas. Cabe aos filmes, entreter, informar e não deixar o passado se perder. E você, tem alguma sugestão de filme sobre o assunto?

FONTE:http://educacao.globo.com/artigo/top-10-filmes-para-entender-o-holocausto.html

quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Ecos de Getulio

Seis décadas após sua morte, as contradições do ditador e líder trabalhista continuam pautando a política nacional

Jorge Chaloub
1/10/2014

Alguns indivíduos ultrapassam o limitado tempo das suas vidas e perpetuam-se como mitos, capazes de inspirar gerações futuras, transformar perspectivas sobre o passado e representar as questões de um povo, época ou país. Na trajetória brasileira, Getulio Vargas é, talvez, a mais significativa expressão desse fenômeno. A frase “Saio da vida para entrar na História”, que encerra sua “carta-testamento”, funcionou como profecia autorrealizada: continuou ecoando por todos os lados e para muito além dos tempos de sua morte, quando os principais protagonistas da cena política ainda podiam ser divididos entre seguidores e adversários do varguismo.
 
A longa ditadura militar iniciada em 1964 por um golpe contra seu principal herdeiro político, João Goulart, não foi capaz de apagar o legado do gaúcho de São Borja, que teve parte do seu espólio arduamente disputado após a redemocratização – a começar pela férrea disputa que travaram Leonel Brizola e Ivete Vargas, filha de Getulio, para ficar com a sigla PTB, partido criado em 1945 sob direta ingerência do presidente.  
 
As décadas se passam, e as marcas deixadas pelas ações e pelo personagem político de Vargas continuam evidentes. Críticas a seu legado permearam a formação dos dois principais partidos brasileiros contemporâneos, o Partido dos Trabalhadores (PT) e o Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB). Fundado com a missão de renovar a esquerda nacional, o PT tinha na tradição trabalhista do varguismo um dos principais oponentes em seus primeiros anos. Lula, futuro presidente do Brasil e o mais destacado líder operário da época, por inúmeras vezes em discursos no fim dos anos 1970 desqualificou a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) – talvez a maior realização varguista no campo dos direitos – tachando-a de “AI-5 dos trabalhadores”, em referência ao Ato Institucional mais repressivo do período da ditadura.
 
Anos mais tarde, em 1995, no discurso que antecedeu sua posse, Fernando Henrique Cardoso, do PSDB, elegeu o “Fim da Era Vargas” como maior objetivo do mandato. A afirmação do reformismo neoliberal, que marcou o governo do sociólogo paulista e alastrou-se por quase toda a América Latina, passava necessariamente pela desconstrução da obra varguista em terras brasileiras. E, uma vez no governo, o PT muda seu discurso. Se antes era crítico do trabalhismo e entusiasta de um “novo sindicalismo”, passou a reivindicar a herança varguista e a associar o PSDB aos críticos liberais de Getulio (em seu tempo, concentrados na União Democrática Nacional, a UDN). 
 
Grande parte dessa longevidade de Vargas no cenário político nacional se deve à ambiguidade de sua trajetória. No mesmo corpo, conviveram o presidente dos direitos trabalhistas e aquele que reprimiu duramente trabalhadores ao longo do Estado Novo. Revolucionário em 1930, ditador em 1937 e líder democrático de massas com plataforma de esquerda em 1950, o mesmo nome parece denominar muitos personagens, o que permite uma ampla variedade de apropriações. Não faz sentido falar em apenas uma linhagem varguista, mas sim em múltiplas tradições. 
 
Podem existir afinidades entre linhagens diferentes como o trabalhismo e o autoritarismo, e elas próprias são diversas em seu interior. Essa demarcação de tradições também não se explica apenas por critérios cronológicos, como o de um varguismo antes e outro depois do Estado Novo – pois vertentes positivas como a dos direitos trabalhistas podem conviver em épocas de feições gerais terríveis. O próprio Vargas foi o ponto de encontro de antigas e arraigadas tradições políticas brasileiras, como o positivismo castilhista – linhagem organizada em torno de Júlio de Castilhos e seus seguidores, com forte presença no Rio de Grande do Sul – e o iberismo, que apostava no Estado como protagonista na organização da vida nacional, em razão da relativa desorganização da sociedade. 
 
As recusas ou as adesões ao varguismo podem abrigar, portanto, distintas crenças e práticas políticas no largo e indeterminado terreno das definições pela negação. Simplesmente porque tudo vai depender do varguismo contra o qual se luta ou ao qual se adere. A recusa ao Vargas da CLT não implica a oposição ao ditador do Estado Novo. O elogio ao Vargas nacionalista não leva necessariamente à simpatia pelo ferrenho anticomunismo do ditador.
 
O lugar de Vargas na política nacional sofre releituras e comparações periódicas, de acordo com o momento que o país atravessa. O Estado Novo (1937-1945), por exemplo, sempre perdurou como paradigma de regime autoritário e centralizador no Brasil, mas ao longo do tempo ganhou outros qualificativos. Logo após o golpe de 1964, Tancredo Neves chamou a ditadura recém-instaurada de “Estado Novo da UDN”, ironizando os liberais que criticaram o Vargas autoritário e acabaram apoiando outro golpe. Quando chega ao fim esse regime de exceção, Raymundo Faoro retorna à metáfora e acena para o possível surgimento de um “Estado Novo do PMDB”, numa crítica às escolhas do rebento do partido de oposição à ditadura, o MDB. E o termo continua válido nos anos 2000, utilizado por Luiz Werneck Vianna numa referência ao estatismo e à centralização do primeiro governo petista, que batiza de “Estado Novo do PT”.
 
Em todas as suas variações, o trabalhismo compõe, ao lado do comunismo, uma das mais relevantes tradições da esquerda brasileira, com grande impacto no meio sindical e nas organizações estudantis. Sua origem é Getulio Vargas, fundador de um dos mais relevantes partidos da história da esquerda nacional, o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) – e, no entanto, um aliado das oligarquias e também fundador do conservador PSD. Não é fácil entender como um ditador pode representar um símbolo da esquerda democrática no Brasil.
 
A questão começa a se tornar mais clara quando se percebe que a ditadura militar, mais longevo regime autoritário brasileiro, foi motivada, dentre outros fatores, pelo combate ao trabalhismo. Não apenas o presidente derrubado, João Goulart, era o principal herdeiro político de Vargas, como um dos principais oponentes dos golpistas e maior inimigo do regime instalado, Leonel Brizola, também se vinculava às hostes trabalhistas. A oposição ao trabalhismo – que era apontado como ferramenta para manipular e agitar as incautas massas populares – foi, aliás, combustível não só do golpe de 1964, mas de outros movimentos golpistas do período, como os de 1954 e 1961.
 
A UDN, maior partido de oposição a Vargas, teve participação relevante em todas essas sublevações ilícitas, seja pelo apoio quase unânime de seus membros (1954 e 1964) ou pelo protagonismo de alguns, caso de Carlos Lacerda (1961). Os liberais udenistas criavam um clima de constante instabilidade, questionando a legitimidade da democracia então vigente, pela relação entre o varguismo e as massas populares. A ideia de “udenismo” entrou para o vocabulário comum da política brasileira, ou ao menos o da esquerda, entendida como um modo de ação política pernicioso à democracia. Por esse raciocínio, se os opositores de Vargas eram identificados como inimigos do regime democrático, seria natural vincular sua figura a esses ideais. Ao atacar e derrubar o governo legitimamente eleito em 1950, os udenistas fortaleceram a face democrática do presidente e relegaram as arbitrariedades do ditador a uma memória distante.
 
Vargas foi um dos primeiros a perceber como ator político fundamental um grupo social até então visto apenas como fonte de distúrbios para a ordem oligárquica que o antecedeu: as grandes massas urbanas. Se os direitos trabalhistas garantidos pela CLT decorrem também da luta dos trabalhadores, ele foi um dos pioneiros dentro da elite política da época a reconhecer a necessidade de instaurar esses novos marcos legais. Conduta, sem dúvida, transformadora. Mesmo seu maior adversário, Carlos Lacerda, reconheceu isso: “Foi mérito seu, indiscutível, o de haver compreendido o valor do homem sem importância (...). Enquanto muitos políticos continuavam a falar apenas para um grupo, ele e outros, depois de 1930, passaram a falar às grandes massas do povo”.
 
A relação de Vargas com os militares também passa por inúmeras flutuações. Aliadas fundamentais para a construção e a manutenção do Estado Novo, as Forças Armadas foram responsáveis diretas por suas duas derrubadas, em 1945 e 1954. No entanto, a vertente nacionalista desse setor, liderada por nomes como Estillac Leal, antigo ministro da Guerra de Getulio, tinha no mito de Vargas um dos seus principais bastiões. O varguismo dividiu o campo militar, justamente por um dos pontos de maior permanência em sua trajetória: o nacionalismo. Nacionalistas eram tanto o Estado Novo quanto o segundo governo Vargas. No nacionalismo convergiam o ditador e o presidente.
 
Normalmente associado à expressão desenvolvimentismo – com o nacional-desenvolvimentismo elevado à grande vertente econômica da Era Vargas – o nacionalismo merece, porém, tratamento à parte. Enquanto o desenvolvimentismo era comungado por quase todos os grupos relevantes, não havia o mesmo consenso em torno do nacionalismo, que rachava opiniões e correntes. O varguismo passa a ser visto como sinônimo de desenvolvimento pela via nacional. Já seus adversários, udenistas ou não, são tachados de antinacionalistas.
 
O discurso nacional é um dos principais motivos do esforço do PSDB para acabar com a “Era Vargas”, desde o Plano Real, implantado em 1994. Não fazia sentido, para o modelo econômico desenhado pelos economistas da PUC-Rio, ater-se a ideias vagas como o nacionalismo, se o mercado internacional era para eles mais eficiente em alocar capitais que favorecessem o desenvolvimento do país. Ressoavam também nessa escolha alguns argumentos da escola de Sociologia da Universidade de São Paulo (USP) das décadas de 1960 e 1970, da qual o próprio Fernando Henrique Cardoso foi um dos principais expoentes.
 
Grandes opositores do nacionalismo de instituições, como o Instituto Superior de Estudos Brasileiros (Iseb), os acadêmicos da USP construíram uma dura crítica ao modelo político-social da República de 1946, com destaque para a relação entre Vargas e a classe trabalhadora. Surge daí a teoria do populismo, que retratava o cenário político da época a partir da cooptação das massas urbanas passivas pelos líderes carismáticos, marcada pelo protagonismo de Francisco Weffort, com contribuição relevante de Fernando Henrique. Se era crítico do modelo varguista na academia, viu-se na missão de destruí-lo quando assumiu a Presidência: a “Era Vargas” transformou-se em responsável pelo atraso que ainda marcava o país, vista através da ótica do populismo e da cooptação do proletariado.
 
O nacionalismo é também elemento relevante para a aproximação entre os governos petistas e a tradição varguista. A oposição entre partido nacionalista e elites antipovo é uma das principais representações da disputa PT e PSDB pelos olhos petistas. O confronto reeditaria, assim, o embate entre PTB e UDN, roteiro no qual Lula e Dilma, amados pelo povo e atacados pela imprensa, desempenhariam o papel que na época coube a Vargas. Mas esse Vargas recuperado pelo PT é apenas o presidente eleito em 1950, ao qual se vinculam bons feitos da época do Estado Novo, como muitos dos direitos trabalhistas. Acabam esquecidos seus malfeitos do período autoritário. Nada mais natural, uma vez que a escolha sobre qual passado recuperar é inseparável do olhar do presente e da expectativa do futuro.    
 
Jorge Chaloub é professor da Fundação Getulio Vargas e autor da dissertação “Ruptura e Permanência: as tendências autoritárias do udenismo (PUC-Rio, 2009).

FONTE:http://www.revistadehistoria.com.br/secao/capa/heranca-perene

quarta-feira, 5 de novembro de 2014

Movimentos quilombolas em Itapipoca

Terras sem lei 


À espera de regularização fundiária, mais de 2 mil grupos quilombolas ficam excluídos das políticas públicas

Déborah Araujo
1/10/2014

FONTE:http://www.revistadehistoria.com.br/secao/em-dia/terras-sem-lei
  • O Sistema de Monitoramento de Territórios Quilombolas mostra a demarcação de terras certificadas pela Fundação Palmares. (Imagem: Reprodução)
    A união faz a força. Por mais clichê que seja esta frase, ela faz muito sentido para a Comissão Estadual de Quilombolas do Estado do Ceará (Cequirce). Criada em 2005, a organização promove encontros estaduais e outros eventos para demandar inclusão social e atendimento de políticas públicas para os 70 grupos remanescentes de quilombos que a compõem atualmente. No entanto, a regularização fundiária é um obstáculo que impede que grande parte dessas comunidades tenha acesso aos seus direitos como cidadãos.

    A falta do título de posse da terra onde vivem impede que muitas comunidades quilombolas demandem “melhores estradas, escolas locais, atendimento médico, além de formas de aproveitamento econômico e patrimonial do local, como produção agrária, turismo e construção de centros históricos e culturais da comunidade”, explica Martha Abreu, professora de história do Brasil na Universidade Federal Fluminense (UFF).
    É o caso da comunidade de Nazaré, da qual faz parte Aurila Maria de Souza Sales, membro da diretoria da Cequirce e professora de história e português na rede municipal de Itapipoca, Ceará. “As terras onde nós moramos não são nossas. Nós não temos como produzir plantação, a não ser que paguemos metade para os fazendeiros ou recebamos um salário que não é suficiente para nos manter”, atesta a educadora. Segundo ela, dos 70 grupos que fazem parte da Comissão Estadual, 42 são certificados pela Fundação Cultural Palmares, o que é uma exigência para a regularização fundiária. Mas nenhum conseguiu a titulação de terra “Nós ainda não pedimos a regularização da comunidade de Nazaré porque já tem muitos processos enterrados no estado”, diz Aurila.
    Mais de 2.300 grupos quilombolas já foram certificados pela Fundação Palmares em seus 26 anos de existência. Apenas 217 dessas comunidades têm suas terras regularizadas, processo que fica a cargo do Instituto Nacional de Reforma e Colonização Agrária (Incra) e órgãos estaduais. “A maior crítica hoje é a falta de agilidade nos processos de reconhecimento e regularização dos territórios de comunidades quilombolas”, confirma a pesquisadora Martha Abreu. Atualmente, o Incra tem 1.290 processos abertos para a regularizar terras quilombolas.
    E a falta de titularização causa outros prejuízos: a maioria das comunidades fica excluída de programas sociais voltados aos quilombolas. Há boas iniciativas recentes, como o Quilombos Sustentáveis, projeto que pretende auxiliar na gestão ambiental e territorial em áreas quilombolas. A ação foi anunciada em agosto passado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), em parceria com a Fundação Ford e a Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade (Seppir). Mas sem regularização fundiária, não há como um grupo ser contemplado.
    Luana Lozzeri Arantes, diretora de programas da Seppir, lembra que isso não é favor, mas dever do Estado: “Trata-se do reconhecimento de que eles têm o direito tradicional àquela terra e de que a terra é coletiva”. 
    Terras em que se localiza a comunidade de Nazaré, em Itapipoca, no Ceará. A região é habitada por 43 famílias. (Imagem: Aurila Maria de Souza Sales)

Aula de Políticas Públicas


domingo, 2 de novembro de 2014

Aplicativos que ajudam a estudar para concurso público

Este kit reúne os melhores apps grátis para quem vai fazer um concurso público. Com versões para Android e iOS, agora os concurseiros podem estudar a partir do smartphone em qualquer lugar e a hora que quiser. Os aplicativos apresentam informações sobre os próximos concursos, além de questões e video-aulas.


Casa das Questões
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Casa das Questões é um simulador de concursos públicos para Android. Gratuito, ele possui grande variedade de perguntas sobre diversos temas de provas para cargos públicos brasileiros. São 13 mil questões com comentários em vídeo de especialistas sobre as resoluções.

Mobile Concursos
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Quem faz concurso público sabe como é difícil conseguir a vaga dos sonhos. Na hora de estudar, qualquer ferramenta que ajude é sempre importante.

Concursos
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O aplicativo Concursos, disponível gratuitamente para Android e iOS, tem como objetivo ajudar concurseiros de todo Brasil a estudar para as concorridas provas. O app traz textos específicos para cada área, vários simulados para estudar e ainda conta com um calendário com as datas de abertura de inscrição de concursos.

PCI Concursos
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PCI Concursos é um site especializado em dar notícias sobre concursos no Brasil. Agora o portal preferido dos concurseiros ganhou versão para smartphones Android e iOS, permitindo aprofundar os estudos a qualquer hora e em todo lugar.

Questões FD Concursos
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Concurseiro é aquele que se dedica a entrar no funcionalismo público, vive entre livros, estuda leis e sonha com a estabilidade. Mas para passar em um concurso é preciso muita dedicação. O lema dessas pessoas é um só: estudar até passar. Para isso você pode contar com a ajuda do aplicativo Questões FD Concursos.



sábado, 1 de novembro de 2014

Confira 10 'dicas de ouro' para você mandar bem no Enem

O aguardado final de semana do Exame Nacional do Ensino Médio está se aproximando. A provas serão realizadas nos dias 8 e 9 de novembro. Logo ali. E como está a sua preparação nesta reta final para o Enem?
Para te ajudar, o Terra Apoio Escolar, em parceria com a Aprende, listou dez dicas que podem ser importantíssimas para você ficar ainda mais preparado, confiante e tranquilo nos dias de prova – e, consequentemente, ter resultados melhores.
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Veja só:
1. Baixe as provas anteriores
Para quem está se preparando, é muito importante baixar as outras provas do Enem, de anos anteriores. Muitos temas se repetem, e você aproveita para pegar o jeito do exame! Ah, faça também simulados, como o Simulado do Terra Apoio Escolar
2. Estude também a redação
Já que a redação é uma preocupação da maioria dos estudantes, busque na internet as propostas dos anos anteriores. Assim, você também conhece os critérios de avaliação que são usados.
3. Esteja antenado: leia notícias
Fique por dentro do que está acontecendo na sua cidade e no mundo. Leia revistas, assista a jornais e, claro: atualize-se aqui no Terra também!
4. Conheça o caminho até o local da prova
Você sabe quanto tempo leva da sua casa até o seu local de prova? Uma boa ideia é experimentar o trajeto neste final de semana para você não ter surpresas nos dias de exame.
5. Olho no relógio!
Lembre-se de que o portão fecha às 13h e quem se atrasar não entra. Então, programe-se para chegar aos locais de prova com pelo menos uma (1) hora de antecedência.
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6. Pegue leve na alimentação
Nada de comer comida pesada na véspera de prova. Não se arrisque a passar mal!
7. Preocupações, não.
Tente relaxar na noite da prova. Veja um filme, leia um livro e vá cedo para a cama.
8. Primeiro as mais fáceis
Ao receber o caderno de questões, veja as questões nas quais você tem mais facilidade e comece por elas. É melhor deixar as mais difíceis para o final.
9. Não sabe uma? Respire fundo, pule e volte depois
Na hora do branco, não se desespere e nem fique preso naquela questão. Passe para a próxima e retorne no final. Assim você ganha tempo, e a chance de se lembrar da resposta aumenta.
10. Releia a redação!
No dia da redação, tenha calma e atenção, pois ela é de fundamental importância na sua nota. Por isso, vale a pena se dedicar e, ao final, reler o que escreveu.

FONTE: http://noticias.terra.com.br/educacao/,fb571354e0759410VgnVCM4000009bcceb0aRCRD.html

quinta-feira, 30 de outubro de 2014

O voto no Brasil

 O voto no Brasil - O voto em pauta

Especial: O voto no Brasil - O voto em pauta

O comparecimento obrigatório às urnas, definido pelo código eleitoral de 1965, não entrou em discussão após a redemocratização

Nashla Dahás

  • “Não estatize meus sentimentos/ Pra seu governo/ O meu estado é independente”. Lançada em 1985 pela banda Legião Urbana, a música “Baader-Meinhof Blues” faz menção ao grupo de esquerda que adotou táticas de guerrilha urbana e produziu uma onda de violência na Alemanha Ocidental na década de 1970. Era a “facção do exército vermelho” lutando contra o exército “fascista”, num momento em que as ideias de liberdade e de democracia subordinavam-se às leis de segurança nacional e à lógica do conflito da Guerra Fria, respectivamente. Estes dois termos – liberdade e democracia – explodiam no Brasil da época do Legião Urbana: Estado e sociedade civil precisavam criar, ao fim da ditadura militar, em 15 de março de 1985, um novo pacto.
    Nem tão novo assim, na verdade. A ditadura havia ficado 20 anos no poder, institucionalizando, sempre que possível, seus mecanismos de censura e repressão. Na maior parte desse período, apenas dois partidos tinham permissão para funcionar, os presidentes-militares e os governadores eram referendados por eleições legislativas, enquanto senadores, deputados, vereadores e prefeitos eram escolhidos em eleições diretas – mas 149 deputados foram cassados na década de 60. Em 1965, o código eleitoral (de 1950) foi substituído por um novo, que manteve o direito de voto restrito aos brasileiros com mais de 18 anos, excluindo-se os analfabetos, os que não soubessem falar a língua nacional, os que estivessem privados de direitos políticos e os militares de baixas patentes.
    Foto: Tomaz Silva / ABR
    Foto: Tomaz Silva / ABR

    As mudanças mais expressivas no código de 1965 se deram no campo da obrigatoriedade do voto, que atingiu pela primeira vez as mulheres que não exerciam profissões lucrativas. Também ficaram mais severas as sanções para quem não comparecesse às urnas. Além da multa, os faltosos que não justificassem a ausência estariam proibidos de inscrever-se em concursos ou receber salários (no caso de funcionários públicos), de obter empréstimos bancários, passaporte e até carteira de identidade, além de não poderem renovar matrícula em estabelecimento de ensino oficial ou fiscalizado pelo governo.
    A proibição de voto aos analfabetos nasceu no fim do Império, foi reafirmada por decreto do primeiro governo republicano em 1889 e atravessou o século, mudando somente na Constituição de 1988: o alistamento eleitoral tornou-se facultativo para eles, que, no entanto, continuaram considerados inelegíveis.
    Para criar o “novo” pacto social de 88, os constituintes olharam para trás e foram buscar os elementos da redemocratização na Constituição de 1946. Dela retiraram as definições eleitorais mais gerais: presidencialismo, com chefe executivo eleito pelo voto direto; Congresso Nacional composto por Senado e Câmara dos Deputados; escolha dos deputados federais pelo sistema proporcional para mandatos de quatro anos, e dos senadores para mandatos de oito; eleição direta de governadores e assembleias legislativas, assim como dos prefeitos e câmaras municipais.
    A discussão sobre liberdade política ficou para mais tarde, e nunca veio. As mesmas sanções definidas em 1965 para os que violam a obrigatoriedade de alistamento e voto estão em vigor até hoje. Além disso, desde 1988 se mantém a regra de cancelamento da inscrição do eleitor caso ele falte a três pleitos seguidos e não se justifique. Não existem pesquisas que avaliem se as sanções são realmente cumpridas pelos órgãos públicos competentes, e sabe-se pouco sobre a influência da obrigatoriedade formal no comparecimento ou não do eleitor às urnas. Isto significa que, desde a criação do alistamento obrigatório e do voto secreto pelo governo provisório de Getulio Vargas, em 1932, a sociedade civil nunca foi consultada sobre o exercício desse direito compulsório.
    Mas o quadro mudou, e muito por influência das manifestações populares de junho de 2013. Quase 30 após a redemocratização, e mais de 80 anos após a concessão do dever de votar pelo Estado, setores sociais envolvidos em reivindicações políticas variadas passaram a invocar nas ruas, e pela via das redes digitais, uma discussão mais ampla também sobre os problemas da representação política no Brasil. Entre esses problemas, a atenção dada à obrigatoriedade do voto parece catalisar uma mudança de sensibilidade social em relação ao papel do Estado e ao funcionamento dos seus poderes Executivo e Legislativo nas liberdades individuais.
    Não é fácil, porém, rever os sentidos de uma vitória como o voto secreto e obrigatório, especialmente para aqueles que conhecem a ausência desse mecanismo. O berço do nosso sistema eleitoral está no período imperial, durante o qual o voto era a descoberto e oral, como maneira de melhor controlá-lo. Até 1881 a justificativa para a manutenção do voto censitário era a de que quanto mais pobres, menor a capacidade para o exercício político. A República trouxe a abolição da restrição de renda, mas excluiu os analfabetos, os mendigos e as mulheres do processo eleitoral sob a explicação de que eram todos dependentes de patrões, maridos e pais, incapazes de formar opinião política própria. E mesmo as inovações do código eleitoral de 1932 demoraram a fazer parte da rotina nacional, pois entre outubro de 1934 e dezembro de 1945 não foram realizadas eleições no país. Apenas em 1946 o código seria retomado e ainda parcialmente, pois a Constituição daquele ano criou novos dispositivos eleitorais que lhe permitiram, por exemplo, cassar o registro do Partido Comunista Brasileiro. A história do voto no Brasil se confunde com essa conturbada história do Estado e de suas instituições.
    Esse passado não tem o mesmo peso sobre as novas gerações. Elas prezam o direito de não terem vivido as nossas ditaduras e se sentem no direito de construir a sua própria história. Que sentidos enxergam no voto? Direito ou dever? Liberdade ou igualdade?
    Neste especial, a Revista de História apresenta dois artigos defendendo teses opostas sobre a obrigatoriedade de votar.
    Nashla Dahásé pesquisadora da RHBN.

FONTE:http://www.revistadehistoria.com.br/secao/artigos-revista/especial-o-voto-no-brasil-liberdade-compulsoria

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