terça-feira, 29 de março de 2016

IPVA – Para onde vai o dinheiro?

É comum ver pessoas se indignando com o valor dos impostos sobre veículos. Principalmente do IPVA – Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores.
buracos-estrada





















As pessoas não se conformam em ter que pagar um IPVA caríssimo e ainda assim se sujeitar a estrada precária, toda esburacada, ou ter que pagar pedágio por uma rodovia decente que já foi paga pelo IPVA. Esse é um equívoco comum, na verdade o IPVA não existe para manutenção de estradas.
Constituição Federal estabelece que aos estados compete instituir impostos sobre a propriedade de veículos automotores e cada estado regulamenta como será este imposto, definindo suas alíquotas. A Constituição também estabelece que 50% do total arrecadado pelo estado com o IPVA vai para o município em que o veículo está registrado. Ou seja, grande parte do IPVA na verdade é utilizado na manutenção das cidades.
Mas o que deve ficar bem claro é que todos os impostos vão para uma conta única, tudo que é arrecadado é somado como receita do governo e depois de feita a divisão dos valores entre União, Estados e Municípios, conforme estabelecido na Costituição Federal, não há  mais distinção de valores que são provenientes de IPVA ou de IRPF – Imposto de Renda Pessoa Física, por exemplo. Tudo isso entra como receita para o governo que deve utilizar esses valores de acordo com o estabelecido no orçamento anual, no plano plurianual e nas diretrizes orçamentárias.
Simplificando, dessa conta única para onde vai tudo que é arrecadado é que sai o dinheiro para manter o governo, as rodovias, as escolas públicas, os hospitais e tudo o mais.
É dever de todo cidadão pagar impostos e é dever do governo prover estradas decentes. São dois deveres a serem cumpridos e um não é contrapartida do outro. 
A indignação é com a alta carga tributária do país e com os políticos corruptos que desviam dinheiro público em proveito próprio, fazendo com que, por mais que se arrecade, as receitas nunca sejam suficiente para cobrir as despesas.
É dever de todos fiscalizar como está sendo aplicado o dinheiro arrecadado e é direito de todos um ambiente saudável, incluindo aí rodovias decentes.
FONTE:http://codigolivre.net/ipva-para-onde-vai-o-dinheiro/

Somente 10% no ensino médio público atingem nível satisfatório

Entre os alunos matriculados no último ano do ensino médio em escolas estaduais brasileiras, somente 10% atingem níveis satisfatórios ao concluir a etapa. Trata-se de uma das principais conclusões de um estudo elaborado pelo Instituto Alfa e Beto, organização não governamental da área educacional, com sede em Brasília.
Os números, segundo a pesquisa, indicam um baixo índice de estudantes com habilidades mínimas e provoca uma reflexão sobre a qualidade da formação dos jovens na rede pública. Para elaborar o documento, foram analisados dados do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2014, com base no relatório “Enem por Escola”, divulgado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep).
Os resultados dos alunos foram divididos em 5 níveis de desempenho – o 1 é o mais baixo e o 5, o mais elevado. Considerando o nível 3 como o “mínimo adequado para concluir o ensino médio” (pelo menos 600 pontos na redação e 550 nas demais provas), aproximadamente 80% dos alunos avaliados das redes estaduais não estariam aptos a terminar o ensino médio, pois obtiveram nota inferior. Ao contar apenas os estudantes matriculados no terceiro ano dos colégios estaduais, essa margem aumenta para 90%.
“Nossos alunos não estão aprendendo o que é proposto pelo currículo do ensino médio. Temos de melhorar a forma com que estamos ensinando ou temos de mudar o currículo? Eu diria que as duas coisas”, diz o presidente do IDados (divisão do Instituto que guiou o estudo), Paulo Rocha e Oliveira. É possível, ainda, estabelecer uma comparação entre alunos de escolas estaduais e privadas.
Cerca de metade das instituições privadas tem média acima do ponto de corte do nível 3 – enquanto no universo da rede estadual, menos de 2% das escolas conseguem superar essa média. Só 4 escolas estaduais atingiram média superior a 700 pontos, índice alcançado por 549 colégios particulares.
A pesquisa ainda aponta que não existe correlação significativa entre os gastos de cada Estado por aluno e a performance no Enem. O Amapá, por exemplo, é a quarta unidade de federação que mais investe (R$ 6.375,53 por aluno) e amarga a 27.ª posição no ranking de desempenho das escolas estaduais nas provas objetivas. Já Santa Catarina, um dos Estados que menos gastam (R$ 4.669,13), está em 6.º lugar.
Crítica
Oliveira critica, ainda, o fato de o Enem ser usado, majoritariamente, para o acesso às universidades. “A amostra exclui a maioria dos alunos mais fracos”, julga o presidente. Isso porque, de acordo com as informações colhidas pelos pesquisadores, 983 mil estudantes matriculados no terceiro ano não fizeram a prova – 88% deles eram da rede pública. Os alunos do ensino público que participaram representaram apenas 24% do total – a maioria desses candidatos já havia concluído o ensino médio em anos anteriores (52%) e uma fatia expressiva (24%) prestou o exame como “treineiro”.
Procurado, o Inep não se manifestou sobre as conclusões do estudo até as 19 horas de desta terça-feira, 15. No site em que o relatório “Enem por Escola” está publicado, o órgão, vinculado ao Ministério da Educação (MEC), diz que “quando disponibilizados por escola, os resultados agregados das proficiências médias possibilitam a análise pela comunidade escolar e pelas famílias, para que se percebam os avanços e desafios a serem enfrentados”. O Inep alerta, porém, que deve se ter “cautela”, pois a participação dos estudantes é voluntária. “Por esta razão, a representatividade dos resultados varia de acordo com o porcentual de participação de estudantes em cada escola.”


FONTE:http://www.estadao.com.br

segunda-feira, 28 de março de 2016

Censo Escolar: 3 milhões de alunos entre 4 e 17 anos estão fora da escola

Mariana Tokarnia - Repórter da Agência Brasil
Os dados do Censo Escolar de 2015 mostram que as matrículas diminuiram em todas as etapas de ensino, menos na creche, que atende as crianças até os 3 anos de idade. Os números refletem a queda da população, em geral, que tem reduzido entre criança e jovens, mas, de acordo com especialistas ouvidos pela Agência Brasil, refletem também desafios para o sistema educacional. São 3 milhões de crianças e jovens de 4 a 17 anos fora das salas de aula, e que, por lei, deverão ser incluídos até este ano. O censo foi divulgado nessa semana pelo Ministério da Educação (MEC).
Segundo o Censo Escola, 690 mil de crianças de até 4 anos estão fora da escola
Segundo o Censo Escola, 690 mil de crianças de até 4 anos estão fora da escolaElza Fiúza/Agência Brasil
As idade mais críticas são 4 anos, 690 mil de crianças não são atendidas, e 17 anos, em que 932 mil adolescentes deixaram os estudos. O censo mostrou que a pré-escola, voltada para crianças de 4 e 5 anos, teve uma redução de 1% de matrículas em relação a 2014, passando de 4,96 milhões para 4,92 milhões, aproximadamente. Foi a primeira queda desde 2011. O ensino médio, que já  reduzia as matrículas pelo menos desde 2010, teve, desde então, a maior queda, entre 2014 e 2015, de 2,7%. O número de estudantes passou de 8,3 milhões para 8,1 milhões.
“Nos dois casos, ainda tem um percentual alto de crianças fora da escola e a gente não pode desperdiçar essa janela de oportunidade, de conseguir inserir mais crianças na rede escolar”, diz a superintendente do Todos Pela Educação, Alejandra, Meraz Velasco. A educação até os 17 anos é obrigatória no Brasil de acordo com a Emenda Constitucional 59 e com o Plano Nacional de Educação (PNE). Termina neste ano o prazo previsto no PNE para que todas as crianças e jovens de 4 a 17 anos estejam matriculados.

Crise
Para o coordenador da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, Daniel Cara, a crise orçamentária pela qual passam tanto União, quanto estados e municípios, impacta a educação. “Não só na redução das matrículas, mas na dificuldade de expansão. Ao invés de estarmos diminuindo ou patinando, precisaríamos aumentar o número de matrículas”, diz.

Cara ressalta que isso é necessário até mesmo no ensino fundamental, tido como universalizado. “Temos 1% das crianças fora da escola, não pode sobrar ninguém. Para aquele 1%, a educação é definitiva para várias possibilidades na vida. Educação não pode ser secundarizada, tem que ver as opções orçamentárias que o Brasil faz”.
Ensino médio e pré-escola
A crise orçamentária pela qual passam tanto União, quanto estados e municípios, impacta a educação
A crise orçamentária pela qual passam tanto União, quanto estados e municípios, impacta a educaçãoMarcello Casal JR/Agência Brasil
Os cenários da educação infantil e do ensino médio são diferentes. Enquanto no ensino médio, a falta de atratividade, a busca por trabalho, a gravidez precoce fazem com que estudantes abandonem os estudos, no ensino infantil faltam salas de aula para incluir todas as crianças. No ensino médio, a maior parte dos jovens está na cidade e, na pré-escola, está no campo.
“O ensino médio não é atrativo para os alunos. O abandono é maior que em outras etapas”, diz o presidente do Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed), Eduardo Deschamps. Outro fator que pode ter levado à queda foi a implantação do 9º ano do ensino fundamental, que começou em 2006. As escolas tinham até 2010 para se adequar. Aqueles que entraram no ensino fundamental em 2006, concluiram os nove anos no ano passado. Assim, estudantes que iriam para o ensino médio, no ano passado, acabaram indo para o 9º ano, o que impactou nas matriculas.

Reformulação do currículo
O Consed aposta na reformulação do ensino médio para atrair mais os jovens. Entre outras mudanças, a intenção é que parte do currículo seja dedicado ao ensino técnico ou outros caminhos que poderão ser escolhidos pelos estudantes. A questão está em discussão na definição da Base Nacional Comum Curricular.

Já na pré-escola, segundo a vice-presidente da União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime), Manuelina Martins, há um esforço enorme de todas as secretarias para incluir esses alunos. “A maioria das crianças de 4 e 5 anos que estão fora da escola está no campo. O pai não manda porque acha que é muito pequena. O fechamento de escolas rurais pode ser um dos fatores que contribuiu para a redução das matrículas, não podemos descartar essa possibilidade”.
Manuelina explica, no entanto, que o cenário é complexo. “Houve o esvaziamento do campo. As pessoas estão vindo mais para a cidade. E as escolas do campo que atendiam um número bem significativo de alunos, tiveram redução enorme”. Manter essas escolas fica caro, de acordo com Manuelina, as matrículas nessa unidades custam de 50% a 80% a mais do que as matrículas na cidade. “Fica caro ofertar essa educação, porque uma escola que atendia 50 estudantes, hoje tem 15. O gestor acaba optando por transportá-los para a área urbana. Mas tem se feito um esforço enorme para manter a escola e tem municípios que estão construindo escolas rurais”.
A creche, que atende a crianças com até 3 anos, foi a única etapa regular que apresentou aumento nas matrículas, 5,2% a mais que em 2014. O número de crianças atendidas passou de 2,9 mihões para 3 milhões aproximadamente. O número vem crescendo desde 2010. A maioria das creches está na zona urbana (76,3%) e 40,7% são privadas, a maior participação da iniciativa privada em toda a educação básica.
Para garantir o cumprimento da lei, o MEC fará uma busca ativa para localizar jovens de 15 a 17 anos que estão fora da escola. Além dos estados e municípios, o ministério buscará a ajuda de agentes de saúde, assistência social, entre outros para contactar os jovens. Quanto à pré-escola, o MEC afirma que tem priorizado, junto com os municípios, a construção de pré-escolas e de módulos que atendam a essa faixa etária.
Educação para Jovens e Adultos
O número de matrículas no EJA caiu 4,5% entre 2014 e 2015
O número de matrículas no EJA caiu 4,5% entre 2014 e 2015 Marcello Casal JR/Agência Brasil
Além da educação regular, a queda de matrículas na Educação para Jovens e Adultos (EJA) preocupa os especialistas. No total, 3,4 milhões de adultos frequentavam a escola em 2015, número 4,5% menor que em 2014. A queda já vinha ocorrendo desde 2007, segundo os dados divulgados pelo MEC.
“A queda de matrículas é uma vergonha. Nao é de hoje, é uma queda constante. A EJA é um atendimento que tem uma especificidade, é importante, dá uma opção para as pessoas que abandonaram a escola, que não se adequam ao sistema regular porque há uma desagregação por faixa etária”, diz Alejandra. “A EJA deveria ter ótimos centros, ótimos programas que incorporassem a vivência da pessoa com uma idade maior, que já tem uma vivência no trabalho e tem um cotidiano muito diferente do aluno do regular”.
Cara diz que quando há dificuldade, as escolas rurais e a EJA são as que mais sofrem com os cortes. “A EJA não tem sido tratada como um direito, mas como uma etapa secundarizada. Gestores priorizam crianças e adolescentes. Acreditam que jovens e adultos que não conseguiram estudar no tempo regular, não têm tanta prioridade. Um aluno da EJA representa resiginficação do processo de ensino e aprendizagem na escola. Para todas as crianças e adolescentes que convivem com ele, é um exemplo positivo”.
O ponto também foi tratado pelo ministro da Educação, Aloizio Mercadante, quando divulgou os dados nessa semana. Segundo ele, há um esforço para aumentar a oferta do ensino técnico junto à etapa. Também entre 2014 e 2015, houve um aumento de 4,8% nas matrículas na educação profissional, chegando ao atendimento de 105,8 mil. A EJA é destaque na nova etapa do Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec), lançada no início do mês, com a meta de oferecer 2 milhões de vagas.


FONTE:http://agenciabrasil.ebc.com.br/educacao/noticia/2016-03/censo-escolar-3-milhoes-de-alunos-entre-4-e-17-anos-estao-fora-da-escola

sábado, 19 de março de 2016

10 práticas de corrupção comuns no dia a dia do cidadão

O tempo passou, o mundo girou, os carrascos mudaram, as formas de tortura também. O que não muda é o preço de todo este histórico de corrupção, que atinge o país desde quando o Brasil era colonial de Portugal.
Nós trabalhadores pagamos uma conta que não devemos, e não temos o direito de escolher pagar ou não pagar.
Não basta ser contra o PT ou PMDB ou qualquer outro partido. Devemos ser contra a corrupção que impera a sociedade contemporânea brasileira. O jeitinho e o tirar vantagem em tudo, não é prática exclusivamente dos indivíduos que transformaram os cargos públicos temporários em cargos vitalícios. 
Protestar e votar nos mesmos políticos, é trocar seis por meia dúzia. Devemos sempre prezar por uma renovação do quadro político dos Municípios, Estados e do país.                                               
 DIGA NÃO A QUALQUER TIPO DE CORRUPÇÃO
COMECE VOCÊ A DÁ EXEMPLO 

O ato de corromper ou de ser corrompido, infelizmente, está em todas as camadas da sociedade. O problema é que muitos ainda não perceberam que atitudes costumeiras e aparentemente inofensivas também são corruptas.



  • 1- Querer levar vantagem em tudo

    A prática do "jeitinho" infelizmente está inserida nos usos e costumes de muitas pessoas. O pior é que "levar vantagem" já se tornou sinônimo de esperteza e até de inteligência. Muitos se gabam por subornar o guarda de trânsito, falsificar documentos para ter acesso mais barato aos cinemas, roubar fontes de vizinhos praticando o famoso "gato", comprar produtos falsificados e outras inúmeras práticas que mesmo sendo claramente ilícitas são tidas por muitos como normais.
  • 2- Desrespeitar o direito alheio

    Poucas pessoas param para pensar que a corrupção tem um sentido muito amplo e corresponde a qualquer ato que prejudique outra pessoa, mesmo que a intenção seja apenas se beneficiar. Sendo assim, furar fila, não dar lugar para idosos e deficientes ou usar vagas e assentos destinados a eles são atos que demonstram caráter fraco e corruptível.
  • 3- Enganar ou prejudicar

    Tendo ou não intenção, sempre que prejudicamos alguém com o objetivo de nos beneficiarmos estamos sendo corruptos. Enganar os outros visando apenas os próprios interesses deveria ser tido, em qualquer situação, como um ato abominável, pois nada justifica essa prática.
  • 4- Burlar leis do trânsito

    Não obedecer a placas ou leis de trânsito além de pôr em risco a própria vida e a dos outros é indigno e representa grande prejuízo social. Se não houvesse normas a sociedade se transformaria em uma grande anarquia, obedecê-las e preservá-las é do interesse de todos.
  • 5- Subornar

    Induzir qualquer pessoa, em qualquer situação, ao descumprimento de seu dever mediante vantagem é sempre corrupção. A propina é um ato muito antigo, estando inclusive presente na Bíblia, quem não sabe as consequências da atitude de Judas ao deixar-se corromper e trair Jesus em troca de algumas moedas?
  • 6- Não pagar impostos

    Muitos clamam por um governo mais honesto, entretanto, sonegam impostos e prejudicam o patrimônio público sem o menor pudor.
  • 7- Mentir

    Toda mentira é uma depravação e, portanto, faltar com a verdade em qualquer situação é um ato de adulteração.
  • 8- Falsificar

    Alterar ou fraudar é sempre um ato desprezível, criminoso e desonesto. Não existe falsificação inofensiva ou pequena falsificação. Não se pode tentar ofuscar a realidade através de desculpas descabidas.
  • 9- Dar ou aceitar troco errado

    Infelizmente muitos fazem gracejos quando recebem troco maior do que lhe é direito ou, ainda pior, quando dão troco a menos. Honestidade é agir corretamente mesmo nas pequenas questões.
  • 10- Não cumprir deveres

    Todo tipo de dever precisa ser respeitado, não existe nesse sentido nada que seja irrelevante; dever é sempre dever.
    É preciso que fique claro que a corrupção é sempre uma falha grave e deve ser combatida mesmo em proporções pequenas. Sendo uma questão educacional, a orientação e o exemplo dos adultos são fundamentais para o extermínio dessa prática tão danosa para a sociedade.

Diga NÃO a qualquer tipo de corrupção



Quando você tem oportunidade de roubar R$ 0,50 (cinquenta centavos) tirando fotocópia pessoal na máquina Xerox do trabalho, você não perde a oportunidade.
Quando você tem oportunidade de roubar R$ 5,00 (cinco reais) levando para casa a caneta da empresa, você não perde a oportunidade.
Quando você tem a oportunidade de roubar R$ 25,00 (vinte e cinco reais) pegando uma nota mais alta na hora do almoço para a empresa reembolsar, você não perde a oportunidade.
Quando você tem a oportunidade de roubar R$ 50,00 (cinquenta reais) de um artista comprando um DVD pirata, você não perde a oportunidade.
Quando você tem a oportunidade de roubar R$ 250,00 (duzentos e cinquenta) comprando uma antena desbloqueada que pega o sinal de satélite de todas as TV’s a cabo, você não perde a oportunidade.
Quando você tem a oportunidade de roubar R$ 469,99 da Microsoft baixando um Windows crackeado num site ilegal, você não perde a oportunidade.
Quando você tem a oportunidade de roubar R$ 2.000,00 (dois mil) escondendo um defeito do seu carro na hora de vende-lo enganando o comprador, você não perde a oportunidade.
E você não perde nenhuma oportunidade, devolve a carteira mas rouba o dinheiro, sonega imposto de renda, dá endereço falso para adquirir benefícios que não tem direito, etc, etc. etc...
Bom, se você trabalhasse no Governo, e caísse no seu colo a oportunidade de roubar R$ 1.000.000,00 (um milhão) com certeza, como você não perde uma oportunidade, iria aproveitar mais esta oportunidade. Tudo é uma questão de acesso e oportunidade.
O povo brasileiro precisa entender que o problema do Brasil não são só a meia dúzia de políticos no poder lá em cima, pois eles, são apenas o reflexo dos quase 200 milhões de oportunistas aqui embaixo. Os políticos de hoje, foram os oportunistas de ontem.

Vai ser difícil limpar o Brasil...
(Autor desconhecido)

segunda-feira, 14 de março de 2016

Ordem DeMolay

Ordem DeMolay é uma sociedade discreta de princípios filosóficos, fraternais, iniciáticos e filantrópicos, para jovens do sexo masculino com idade compreendida entre os 12 e os 21 anos. É uma organização para-maçonica fundada nos Estados Unidos, em 24 de Março de 1919, pelo maçom Frank Sherman Land patrocinada e mantida pela Maçonaria[carece de fontes?], oficialmente desde 1921, que na maioria dos casos cede espaço para as reuniões dos Capítulos DeMolays e Priorados da Ordem da Cavalaria - denominações das células da organização.São 7 preceptores, uma tríade, e outros cargos.
A Ordem é inspirada na vida e morte do nobre francês Jacques de Molay, 23º e último Grão-Mestre da Ordem dos Templários, morto em 18 de março de 1314 junto a 3 de seus preceptores por contestar as falsas acusações de prática de diversas heresias como infidelidade à Igreja, sodomia, adoração de ídolos etc. Pode-se acreditar que o motivo de tais acusações fosse a ambição do Rei Filipe IV, o Belo e o Papa Clemente V, pelas posses da Ordem dos Templários, pois em caso de prisão, os bens do acusado passariam a pertencer ao Estado francês.
A Ordem Demolay possui cerca de 8 milhões de membros em todo o mundo e mais de 200 mil no Brasil. O DeMolay que completa 21 anos de idade, é denominado Sênior DeMolay, perde seu direito a voto e o de ocupar cargos efetivo e passa a poder acompanhar os trabalhos do Capítulo através da "Associação DeMolay Alumni". No Brasil, a Ordem é distribuída em mais de setecentos e noventa capítulos, sendo que os milhares de DeMolays regulares de todos os Estados da federação se reúnem freqüentemente.
No mundo, a Ordem DeMolay pode ser encontrada em vários países como ArgentinaAruba (Países Baixos), AlemanhaAustráliaBolíviaBrasilCanadáColômbiaEstados UnidosFilipinasFrançaGuam (Estados Unidos), ItáliaJapãoMéxicoPanamáParaguaiPeru e Uruguai.

Ordem DeMolay no Mundo

No dia 8 de abril de 2008, o Estado de São Paulo estabeleceu o Dia do DeMolay, através da Lei Estadual nº 12.905, a ser comemorado anualmente no dia 18 de março. Em  19 de janeiro de 2010, foi promulgada a Lei Federal nº 12.208 que insituiu o dia 18 de março como o Dia Nacional do DeMolay, seguindo o exemplo paulista, sendo que a escolha da data marca o falecimento de Jacques de Molay, herói e mártir que inspirou o nome da Ordem.

Princípios


Os princípios da Ordem são baseados em 7 virtudes, consideradas cardeais (1. Amor Filial, 2. Reverência pelas Coisas Sagradas, 3. Cortesia, 4. Companheirismo, 5. Fidelidade, 6. Pureza e 7. Patriotismo), incentivando cada membro a trilhar seu caminho seguindo esses preceitos, que são considerados pela Ordem como diferenciais na vida de um líder e de um Homem de Bem, também como determinantes para seu destino.
Os baluartes da Ordem são a defesa das Liberdades:
  • "Religiosa" representada pelo Livro Sagrado. (Pode ser representado por qualquer livro sagrado independente da religião. Exemplo: Bíblia, Alcorão, A Torah etc.).
  • "Civil", representada pela Bandeira Nacional.
  • "Intelectual", representada pelos Livros Escolares.
Assim prescreve a ética de um DeMolay:
  • Um DeMolay deve respeitar e crer em algum Deus;
  • Um DeMolay deve honrar e respeitar todas as mulheres;
  • Um DeMolay deve amar e honrar seus pais;
  • Um DeMolay é honesto;
  • Um DeMolay é leal a ideais e amigos;
  • Um DeMolay executa trabalhos honestos;
  • Um DeMolay sempre permanece inabalável a favor das escolas públicas;
  • Um DeMolay é o orgulho de sua Pátria, seus pais, sua família e seus amigos;
  • A palavra de um DeMolay é tão válida quanto sua confiança.

Sete Virtudes Cardeais de um DeMolay

A Ordem DeMolay invoca sete luzes, simbolizando as sete virtudes cardeais de um DeMolay, que iluminam seus caminhos conforme passam pela estrada da vida, simbolizando tudo que é bom e correto, a base de suas vidas.
Amor Filial: é o amor e carinho que devemos ter por nossos pais, que nos semearam, geraram, nos ensinaram as primeiras lições de nossas vidas e se sacrificaram por nós. Através deles nós tivemos as primeiras lições de educação, respeito e na crença em Deus.
Reverência pelas Coisas Sagradas: significa a crença em Deus, não importando a sua religião. Para ser um DeMolay o jovem tem que ter praticar alguma fé.
Cortesia: educação, respeito e solidariedade são princípios que um DeMolay procura por em prática usando a filantropia, mas somente válida quando é feita com sentimento, colocando o coração naquilo que faz. Os DeMolays possuem o seguinte pensamento:
"Para ser útil à sociedade não é necessário ser um DeMolay, mas para ser um DeMolay é necessário ser útil à sociedade".
Companheirismo: é ser um amigo leal, tanto nas horas boas quanto nas ruins. O verdadeiro companheiro e amigo é aquele que estende a mão para um Irmão em momentos de dificuldade. Companheirismo é levar uma chama de amizade no coração, para que, quando um amigo estiver no meio do túnel, ela possa iluminar e mostrar onde está a saída.
Fidelidade: é sempre acreditar em seus ideais e virtudes, mantendo em segredo tudo aquilo que lhe for confiado. É ser fiel a Deus, à sua Pátria e a seus amigos, seguindo o exemplo de fidelidade de Jacques DeMolay, que preferiu morrer a trair seus Irmãos ou faltar com seu juramento.
Pureza: é ser um cidadão idôneo, puro de alma e de coração; é sempre estar de bem com a própria consciência. É manter a mente longe de tudo que vá contra os princípios de um bom cidadão.
Patriotismo: é respeitar e defender a nossa Pátria, nossa Democracia, nosso Estado e nossa Cidade e, além disso, conservar tudo que diz respeito ao patrimônio público, como escolas, asilos, orfanatos e hospitais, que prestam ajuda às pessoas mais carentes de nossa sociedade.

Graus

Assim como a Maçonaria possui o Corpo das Lojas de Perfeição após as Lojas Simbólicas, a Ordem DeMolay também se divide em dois Corpos. O primeiro, envolve os dois primeiros Graus: o Grau Iniciático e o Grau DeMolay, podendo ser comparado às Lojas Simbólicas. O segundo envolve os graus históricos, filosóficos e honoríficos, que compõe da Ordem da Cavalaria.
Os Graus básicos da Ordem DeMolay são o Grau Iniciático e o Grau DeMolay. Os DeMolays desses graus trabalham em Capítulos. Os Graus da Ordem da Cavalaria são trabalhados em Conventos (SCODB) ou Priorados (SCODRFB).

Grau Iniciático

Primeiro grau da Ordem DeMolay, em que os DeMolay's recém iniciados ingressam quando são admitidos em um capítulo e refletem sobre a Cerimônia de Iniciação.
O Primeiro Grau DeMolay, chamado Grau Iniciático, é baseado nas Sete Virtudes Cardeais de um DeMolay: amor filial, reverência pelas coisas sagradas, cortesia, companheirismo, fidelidade, pureza e patriotismo. O ingresso na Ordem exige do candidato no mínimo um esboço dessas Sete Virtudes, sendo esse Grau responsável por esculpi-las e valorizá-las, fazendo com que o jovem as honre e dignifique ainda mais em sua vida diária. É ainda nesse Grau que o jovem possui o primeiro contato com o esoterismo oferecido pela Ordem, através de toda a simbologia incutida na disposição dos objetos dentro da Sala Capitular, nas posições e movimentações dos Oficiais nas cerimônias e em seus paramentos, o que compõe a ritualística que rege as sessões da Ordem. Despertar o interesse sobre a Ordem da forma correta nesses iniciáticos é um trabalho delicado e muito importante para que se possa colher bons resultados dos ensinamentos oferecidos no dia a dia de seus membros.

Grau DeMolay

Segundo grau da Ordem, alcançado somente pelos DeMolay's mais esforçados, que após demonstrarem merecimento e conhecimentos adquiridos na convivência capitular e estudos pertinentes ao Grau Iniciático. Antes de receber o Grau DeMolay, deve-se fazer um exame de proficiência no qual são testados os conhecimentos do iniciático sobre os princípios básicos da Ordem.

Ordem dos Escudeiros da Távola Redonda

A Ordem dos Escudeiros Távola Redonda é uma organização internacional, fundada em 2005,e no Brasil traduzida por Rogério Del Rey, patrocinada pela Ordem DeMolay, feita para crianças, do sexo masculino, entre sete e doze anos, buscando auxiliar a criança na construção de seu desenvolvimento intelectual, visando à formação de um melhor cidadão para o futuro.
O nome “Távola Redonda”, relacionado à lenda do Rei Artur, foi escolhido porque aquela antiga ordem possuía os mais elevados ideais de serviço, perfeição, camaradagem e igualdade entre os Cavaleiros. Dessa forma, a lenda é usada como ferramenta lúdica para o desenvolvimento pedagógico de suas cerimônias e objetivos.
Assim como os DeMolays se reúnem em Capítulos, os escudeiros se reúnem em um Castelo (nome dado à unidade de cada agrupamento de escudeiros). Cada Castelo possui uma administração própria, composta de cargos que são ocupados pelos Escudeiros.
O propósito da Ordem dos Escudeiros da Távola Redonda é contribuir para que as crianças, ao chegar a sua adolescência, assumam seu próprio desenvolvimento, especialmente do Carácter, ajudando-as a realizar suas plenas potencialidades físicas, intelectuais, sociais, afetivas e espirituais, como cidadãos responsáveis, participantes e úteis à comunidade, de forma autônoma e consciente.
Os princípios que alicerçam a Ordem dos Escudeiros são:
  • Sabedoria;
  • Verdade;
  • Justiça.
Os métodos utilizados pela Ordem dos Escudeiros caracterizam-se pelo conjunto dos seguintes pontos que orientam o trabalho educativo desenvolvido com as crianças:
  • Promessa de ser um melhor filho;
  • Cerimônias Ritualísticas;
  • Vida em equipe;
  • Atividades Progressivas, atraentes e variadas.
  • Desenvolvimento pessoal com orientação.
  • Aprender fazendo.

Ordem da Cavalaria


Os Nobres Cavaleiros da Ordem Sagrada dos Soldados Companheiros de Jacques DeMolay, mais conhecidos como Ordem da Cavalaria, compõe uma organização complementar da Ordem DeMolay, cujo objetivo principal é o aprimoramento moral e filosófico de seus membros, que se reúnem em Conventos (SCODB) ou Priorados (SCODRFB). A admissão é concedida a DeMolays que tenham ao menos 17 anos e que tenham recebido o Grau DeMolay. Também pode ser concedido o grau aos Seniores DeMolays, contanto que tenham autorização do seu respectivo Grande Mestre Estadual.
A primeira Investidura ocorreu em 10 de janeiro de 1948 em Kansas City, Missouri, EUA. O primeiro Convento ou Priorado (Priory, no original em inglês) foi fundado em 27 de outubro de 1947. Enquanto no Supremo Conselho da Ordem DeMolay para o Brasil existem 11 graus no chamado Ilustre Rito Brasileiro da Cavalaria, no Supremo Conselho da Ordem DeMolay para a República Federativa do Brasil existem 2 graus e 8 ordens pertencentes às "Sublimes Ordens da Cavalaria".
Graus:
No Supremo Conselho da Ordem DeMolay para o Brasil (a partir de 2005):
  • Nobre Cavaleiro
Série Histórica:
  • Cavaleiro da Capela
  • Cavaleiro da Cruz de Salém
  • Ex-Templário
  • Tableau
  • Tríade (concedido sempre imediatamente após o Grau Tableau)
Série Filosófica:
  • Ébano
  • Anon
  • Cavaleiro da Cadência
Série Honorífica:
  • Comendador da Cavalaria
  • Grande Cruz da Cavalaria
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quinta-feira, 10 de março de 2016

Construindo um Império - O Mundo de Da Vinci


Leonardo da Vinci


Biografia

Leonardo nasceu em 15 de abril de 1452, "na terceira hora da noite",[nb 7] de um sábado,[nb 8] no vilarejo de Anchiano, na comuna italianade Vinci, na Toscana, situada no vale do rio Arno, dentro do território dominado à época por Florença.[15] Era filho ilegítimo de MesserPiero Fruosino di Antonio da Vinci, um notário florentino, e Caterina,[16] [17] uma camponesa[14] [18] que pode ter sido uma escrava oriunda do Oriente Médio.[nb 9] [19] Leonardo não tinha um sobrenome no sentido atual; "da Vinci" significa simplesmente "de Vinci": seu nome completo de batismo era "Leonardo di ser Piero da Vinci", que significava "Leonardo, (filho) de (Mes)ser,[nb 10] Piero de Vinci".[15] O próprio Leonardo da Vinci assinava seus trabalhos simplesmente como Leonardo ou Io Leonardo ("Eu, Leonardo"); presume-se que ele não usou o nome do pai por causa do estado ilegítimo.Genealogia

Possível casa de infância de Leonardo, em Anchiano.

Infância, 1452–1468

Leonardo da Vinci
Estátua na Galleria degli Uffizi
Pouco se sabe da infância de Leonardo. Provavelmente passou os seus primeiros quatro ou cinco anos no vilarejo de Anchiano, e depois do casamento de sua mãe com um lavrador de nome Accattabriga di Piero del Vaca, mudou-se para a casa da família de seu pai então casado com uma jovem de dezesseis anos chamada Albiera di Giovanni Amadori,[13] com a qual Leonardo tinha uma boa relação, a quem chamava de madrinha, em companhia de seu avô, Antonio, e tio, Francesco, na paróquia de Santa Croce em Vinci, em um ambiente bucólico aconchegante, o que é significativo na personalidade de um Leonardo ligado a natureza.[nb 11] Albiera morreu muito cedo sem filhos . A morte do seu avô Antonio a quem muito estimava deu-se logo após em 1468,[2] [20] e Leonardo apesar de ilegítimo continuara filho único no segundo casamento do seu pai Piero, com Francesca di Giuliano Lanfredini; testemunharia a mais dois casamentos deste, até que em 1476, quando viviam em Florença, Piero teve o tão esperado filho legítimo.[21] Em sua vida adulta, Leonardo só se recordaria de dois incidentes de sua infância, um deles, tinha como presságio:
Parece-me que sempre fui destinado a me interessar muito profundamente por falcões, pois lembro-me como uma de minhas primeiras recordações que, quando estava no berço, um falcão desceu sobre mim e abriu-me a boca com a cauda, e me bateu muitas vezes entre os lábios com ela.[13] [20]
O segundo ocorreu enquanto ele brincava nas montanhas da região, e depois de vagar por alguma distância entre as rochas projetadas acima, cheguei à boca de uma imensa caverna, diante da qual me quedei por algum tempo estupefato, pois ignorava a sua existência (…) e após ficar ali algum tempo, de repente despertaram dentro de mim duas emoções — medo e desejo — medo da escura e ameaçadora caverna, desejo de ver se haveria alguma coisa maravilhosa lá dentro.[13] [20]
A infância e a juventude de Leonardo foram tema de diversas conjunturas históricas.[22] Giorgio Vasaribiógrafo do século XVI que escreveu sobre os pintores do Renascimento, conta como um camponês local teria pedido a Ser Piero que mandasse seu filho pintar um quadro numa placa redonda ou escudo. Leonardo respondeu com uma pintura de serpentes soltando fogo — ou mesmo um dragão — tão terrível e mesmo assim tão surpreendente que Ser Piero decidiu vender a um negociante de arte florentino que, por sua vez, a vendeu ao Duque de Milão. Enquanto isso, com parte do lucro da venda, SerPiero comprou uma placa, decorada com um coração penetrado por uma flecha, que ele deu ao camponês.[23] Leonardo tornou-se um jovem instruído e sempre referido pelos estudiosos como dono de uma bela aparência de fartos cabelos louros e olhos claros, além de uma personalidade afável com o trato das pessoas.[24]

Ateliê de Verrocchio, 1469–1476

Na sua adolescência, Leonardo foi fortemente influenciado por duas grandes personalidades da época, Lourenço de Médici e o grande artista Andrea del Verrocchio.
Em 1469, com dezessete anos, Leonardo passou a ser aprendiz de um dos mais bem-sucedidos artistas de seu tempo, Andrea di Cione, conhecido como Verrocchio (Olho verdadeiro).[13] O ateliê de Verrocchio estava no centro das correntes intelectuais de Florença, o que garantiu ao jovem Leonardo uma educação nas ciências humanas. Outros pintores famosos que passaram por um aprendizado neste mesmo ateliê foram GhirlandaioPeruginoBotticelli e Lorenzo di Credi.[20] [25] Leonardo foi exposto desde cedo a uma vasta gama de técnicas, e teve a oportunidade de aprender desenho técnicoquímicametalurgiamecânicacarpintaria, a trabalhar com materiais como couro e metal, fazer moldes, além das técnicas artísticas de desenho, pintura, escultura e modelagem.[26] [27] [28]
Boa parte da produção de pinturas do ateliê de Verrocchio era feita por seus funcionários. De acordo com Vasari, Leonardo colaborou com Verrocchio em seu O Batismo de Cristo, pintando o jovem anjo da esquerda, que segura a túnica de Jesus de maneira tão superior ao seu próprio mestre que Verrocchio teria decidido nunca mais pintar.[23] Isto provavelmente é um exagero; mas um exame atento da pintura mostra que existem diversos retoques feitos sobre a têmpera utilizando a nova técnica de pintura a óleo, como o cenário, as rochas que podem ser vistas ao fundo e boa parte da figura do próprio Jesus, todas testemunhas da mão de Leonardo.[18]
O próprio Leonardo pode ter sido o modelo para duas obras de Verrocchio, incluindo a estátua de bronze de David, no Bargello, e oArcanjo em Tobias e o Anjo. Na altura apenas se disse que a estátua de David tinha sido inspirada num dos mais belos aprendizes do atelier de Verrocchio.[18]
Em 1472, com vinte anos de idade, Leonardo se qualificou para o cargo de mestre na Guilda de São Lucas, uma guilda de artistas e doutores em medicina,[nb 12] porém mesmo depois de seu pai ter montado seu próprio ateliê, sua ligação com Verrocchio permaneceu tal que ele continuou a colaborar com ele.[20] Aos poucos, as pessoas da corte passam a fazer encomendas diretamente a Leonardo. Sua obra mais antiga a ser datada é um desenho em pena e tinta do vale do Arno, feito em 5 de agosto de 1473.[nb 13] [25]

Vida profissional, 1476–1513

A Adoração dos Magos, (1481–1482) — Uffizi. Em março de 1481, a Leonardo foi encomendada esta pintura, pelos monges de São Donato Scopeto em Florença. O notário do mosteiro era o pai de Leonardo, e é muito provável que tenha induzido os monges a contratar seu filho.[29]
Leonardo da Vinci na presença do Duque de Milão Ludovico Sforza,afresco de Nicola Cianfanelli
Estudo de um cavalodos diários de Leonardo — Royal Library, Castelo de Windsor
Desenho de Leonardo Da Vinci,parte da coleção da Castello Sforzesco
Em 1476, Leonardo da Vinci, juntamente com mais três alunos do ateliê de Verrocchio, foram acusados de sodomia;[nb 14] segundo a acusação referente a Leonardo, ele teria tido relações homossexuais com Jacopo Saltarelli, um jovem de 17 anos muito popular à época em Florença como prostituto.[13] Diante, no entanto, da falta de provas concretas que confirmassem semelhante acusação, Leonardo foi absolvido.[30] A partir desta data até 1478 não existem registros nem de obras suas nem de seu paradeiro,[31] embora se costuma presumir que Leonardo tenha estado no ateliê, em Florença, entre 1476 e 1481.[18] Em 1478 foi-lhe encomendada a pintura de um retábulo para a Capela de São Bernardo, e a Adoração dos Magos, em 1481, para os monges de San Donato a Scopeto. Esta importante encomenda foi interrompida com a ida de Leonardo para Milão.[32]
Em 1482, Leonardo, que de acordo com Vasari era um músico muito talentoso,[33] criou uma lira de prata, com a forma da cabeça de umcavaloLourenço de Médici, dito "il Magnifico", grande humanista, enviou Leonardo, a portar a lira como um presente, a Milão, para selar a paz com Ludovico Sforza (dito il Moro, "o Mouro"), Duque de Milão não oficial.[34] Foi nesta época que Leonardo da Vinci escreveu uma carta a Ludovico, citada frequentemente, na qual ele descreve as coisas diversas e maravilhosas que conseguia realizar no campo da engenharia, e informando o seu senhor que ele também podia pintar.[25] [35]
Leonardo continuou a trabalhar em Milão, entre 1482 e 1499. Recebeu a encomenda de pintar a Virgem dos Rochedos para a Confraria da Imaculada Conceição, e a Última Ceia para o mosteiro de Santa Maria delle Grazie.[20] Enquanto vivia em Milão, entre 1493 e 1495, Leonardo listou uma mulher, chamada Caterina, entre seus dependentes, nas suas declarações de imposto de renda. Quando ela morreu, em 1495, a lista dos gastos com o funeral sugere que ela pode ter sido sua mãe.[20] [36]
Trabalhou em diversos projetos para Ludovico, incluindo o preparo de carros alegóricos e desfiles para ocasiões especiais, o projeto de uma cúpula para a Catedral de Milão, e um modelo de um imenso monumento equestre para Francesco Sforza, o antecessor de Ludovico. Setenta toneladas de bronze foram separadas para a sua confecção; o monumento permaneceu inacabado durante anos, o que não foi comum na carreira de Leonardo. Em 1492 um modelo de argila foi terminado; ele era maior, em tamanho, que as duas únicas estátuas equestres do Renascimento, a estátua de Gattemelata, em Pádua, e a de Bartolomeo Colleoni, de Verrocchio, em Veneza, e ficou conhecido como o "Gran Cavallo".[25] [37]
Leonardo começou a fazer os projetos detalhados para a sua fundição;[25] Michelangelo, no entanto, sugeriu, de maneira indelicada, que Leonardo seria incapaz de fazê-lo.[20] Em novembro de 1494 Ludovico usou o bronze para fabricar canhões, visando defender a cidade da invasão de Carlos VIII da França.[25]
No início da Segunda Guerra Italiana, em 1499, as tropas invasoras francesas de Luís XII sucessor de Carlos VIII, utilizaram-se do modelo de argila do Gran Cavallo como alvo para praticar tiro. Com a deposição de Ludovico Sforza, Leonardo, juntamente com seu assistente, Salai, e seu amigo, o matemático Luca Pacioli, abandonou Milão e fugiu para Veneza, passando por Mântua, sendo que em Veneza foi empregado como arquiteto e engenheiro militar, planejando métodos de defender a cidade de um ataque naval.[18] [20]
Ao retornar a Florença, em 1500, foi recebido, juntamente com sua família e criadagem, pelos monges servitas do mosteiro de Santissima Annunziata, onde tinha à sua disposição um ateliê. Foi ali que, de acordo com Vasari, criou o desenho da Virgem, o Menino, Sant'Ana e São João Batista — uma obra que conquistou tanta admiração que homens e mulheres, jovens e velhos vinham vê-la, em massa, como se estivessem frequentando um grande festival.[23] [nb 15]
Em 1502, Leonardo passou a trabalhar para César Bórgia, filho do papa Alexandre VI, atuando como arquiteto e engenheiro militar, e viajando por toda a Itália com seu patrão;[18] foi nessa viagem que conheceu Nicolau Maquiavel. Retornou a Florença, onde voltou a fazer parte da Guilda de São Lucas, em 18 de outubro de 1503; recebeu a encomenda de um retrato: a Mona Lisa, e passou os dois anos seguintes desenhando e pintando um grande mural da Batalha de Anghiari para a Signoria,[18] enquanto Michelangelo foi responsável pela peça que a acompanhava, A Batalha de Cascina.[nb 16] Ainda em Florença, em 1504, fez parte de um comitê formado para transferir, contra a vontade do próprio autor, Michelangelo, a célebre estátua do Davi.[40]
Em 1506, retornou a Milão. Muitos dos seus pupilos e seguidores mais importantes, no campo da pintura, ou o conheceram ou trabalharam com ele naquela cidade,[20] incluindo Bernardino LuiniGiovanni Antonio Boltraffio e Marco D'Oggione.[nb 17] Seu pai morreu em 1504, e como resultado, em 1507 Leonardo teve de voltar a Florença para resolver com seus irmãos os problemas decorrentes da herança e das propriedades paternas. No ano seguinte, retornou a Milão por solicitação do governador francês Charles d'Amboise, para resolver problemas de trabalhos inconclusos, onde passou a viver em sua própria casa, na região da Porta Orientale, na paróquia de São Bábila.[18]Após mercenários suíços expulsarem os franceses em 1512, Massimiliano Sforza filho de Ludovico, ascendeu ao poder, e Leonardo ficou sem patrono. No ano seguinte foi convidado por Juliano de Médici, filho de il Magnifico, para viajar para Roma, que estava sob o controle do papa Leão X, um Médici.[13]

Últimos anos, 1513–1519

Clos Lucé, na França, onde Leonardo viveu seus últimos anos de vida, até morrer em 1519.
De setembro de 1513 a 1516, Leonardo passou a maior parte do seu tempo vivendo no Belvedere, no Vaticano, em Roma, período durante o qual Rafael e Michelangelo também estavam em atividade.[18] Em outubro de 1515, Francisco I da França reconquistou Milão;[41] Leonardo estava presente no encontro entre Francisco I e o papa Leão X, em 19 de dezembro, ocorrido emBolonha.[20] [42] [43]
Foi de Francisco que Leonardo recebeu a encomenda de construir um leão mecânico, que pudesse caminhar para a frente, e abrir seu peito, revelando um ramalhete de lírios.[23] [nb 18] Em 1516, passou a trabalhar diretamente a serviço de Francisco, e foi-lhe concedido osolar de Clos Lucé,[nb 19] próximo à residência do rei, no Castelo de Amboise. Foi aqui que ele passou os três últimos anos de sua vida, acompanhado por seu amigo e aprendiz, o conde Francesco Melzi, e sustentado por uma pensão que totalizava 10 000 escudos.[18]
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LEONARDUS VINCIUS: QUID PLURA? DIVINUM INGENIUM, DIVINA MANUS, EMORI IN SINU REGIO MERUERE. VIRTUS ET FORTUNA HOC MONUMENTUM CONTINGERE GRAVISSIMIS IMPENSIS CURAVERUNT.
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Leonardo morreu em Clos Lucé, em 2 de maio de 1519. Francisco havia se tornado um grande amigo; e Vasari relata que o rei segurava a cabeça de Leonardo em seus braços quando este morreu — embora a história, amada pelos franceses e retratada em pinturas românticas de artistas como Ingres e Angelica Kauffmann, possa ser mais lenda do que realidade.[nb 21]
A Morte de Leonardo da Vinci, porIngres (1818)
Vasari também conta que, em seus últimos dias, Leonardo teria pedido que um padre lhe fosse trazido, para que se confessasse e recebesse a extrema unção.[23] De acordo com o que pediu em seu testamento, sessenta mendigos seguiram o seu cortejo. Foi enterrado na Capela de Saint-Hubert, no Castelo de Amboise.[45] Melzi foi o principal herdeiro e inventariante, e recebeu, além de todo o dinheiro de Leonardo, todos os seus cadernos, ferramentas, sua biblioteca e seus objetos pessoais. Leonardo também se lembrou de seu antigo pupilo e companheiro, Salai, e de seu criado, Battista di Vilussis; cada um recebeu uma metade das vinhas de Leonardo, sendo que de Salai tornaram-se posses as pinturas que acompanhavam o mestre desde então.[17] Seus irmãos também receberam terras, e sua criada recebeu um manto negro de bom material, com as bordas de pele.[46]
Cerca de vinte anos após a morte de Leonardo, o rei Francisco teria falado, segundo o escultor Benvenuto CelliniNunca nasceu no mundo outro homem que soubesse tanto quanto Leonardo, nem tanto [por seus conhecimentos] de pintura, escultura e arquitetura, mas por ele ter sido um grande filósofo.[47]

Relacionamentos e influências

As Portas do Paraíso, de Ghiberti (1425–1452), realizadas com o apoio de diversos artistas, eram motivo de orgulho na cidade.

Florença – contexto social e artístico de Leonardo

Ver artigo principal: Renascimento
Leonardo começou seu aprendizado com Verrocchio em 1466, no ano em que morreu o mestre do próprio Verrocchio, o grande escultorDonatello. O pintor Uccello, cujas experiências com a perspectiva influenciariam o desenvolvimento da pintura de paisagem, já era um homem de idade muito avançada, e os pintores Piero della Francesca e Fra Filippo Lippi, o escultor Luca della Robbia, e o arquiteto e escritor Alberti já estavam em seus sessenta anos de idade. Entre os artistas mais bem sucedidos da geração seguinte estavam, além do próprio professor de Leonardo, Verrocchio, Antonio Pollaiuolo e o escultor Mino de Fiesole, cujos bustos realistas são até hoje as evidências mais confiáveis da aparência real do pai de Lourenço de Médici, Piero, e de seu tio, Giovanni.[48] [49] [50]
Pequena Madona e o Menino deVerrocchio,c. 1470
Peça central de O Retábulo de Portinari,por Hugo van der Goes, feito para uma família florentina
Lourenço de Médici entre Antonio Pucci e Francesco Sassetti, afrescode Ghirlandaio
Estudo para um retrato de Isabella d'Este(1500) — Louvre
Leonardo passou sua juventude numa Florença decorada pelas obras destes artistas, e pelos contemporâneos de Donatello, como Masaccio — cujos afrescos figurativos estavam imbuídos de realismo e emoção, ou de Ghiberti, cujas Portas do Paraíso, folheadas a ouro, mostravam a arte da combinação de composições figurativas complexas com fundos arquitetônicos ricamente detalhados. Piero della Francesca fez um estudo detalhado da perspectiva, e foi o primeiro pintor a fazer um estudo científico da luz. Estes estudos, juntamente com o Trattato de Leone Battista Alberti, teriam um efeito profundo nos artistas mais jovens, e especialmente nas próprias observações e obras de Leonardo.[48] [49] [50]
A Expulsão do Jardim do Éden, de Massaccio, mostrando Adão e Eva nus e transtornados, abandonando o Jardim do Éden, criou uma imagem tremendamente expressiva da forma humana, representada em três dimensões através do uso de luz e sombra — algo que seria desenvolvido nas obras de Leonardo a ponto de influenciar a história da pintura a partir de então. As influências humanistas do Davi de Donatello podem ser vistas nas pinturas da velhice de Leonardo, em especial o São João Batista.[50]
Uma tradição recorrente em Florença era a de pequenos retábulos retratando a Virgem e o Menino. Muitos eram feitos em têmpera outerracota vitrificada, pelos ateliês de Filippo Lippi, Verrocchio e da prolífica família della Robbia.[50] As primeiras madonas de Leonardo, como A Virgem do Cravo e Virgem Benois seguiram nesta tradição, embora mostrassem diferenças idiossincráticas, especialmente no caso da Virgem Benois, na qual a Virgem está retratada num ângulo oblíquo ao espaço do quadro, com o Menino Jesus num ângulo oposto. O mesmo tema reapareceria em diversas pinturas posteriores de Leonardo, como A Virgem e o Menino com Santa Ana.[20]
Leonardo foi contemporâneo de BotticelliGhirlandaio e Perugino, embora fossem um pouco mais velhos que ele. Teria conhecido todos no atelier de Verrocchio, com quem eles tinham ligações, e na Academia dos Médici.[20] Botticelli era especialmente preferido pela família Médici, e seu sucesso como pintor era praticamente garantido. Ghirlandaio e Perugino eram prolíficos, e também geriam grandes ateliês; foram responsáveis por comissões realizadas com competência, para patronos satisfeitos, que apreciavam a habilidade de Ghirlandaio de retratar os cidadãos ricos de Florença em grandes afrescos religiosos, e a habilidade de Perugino em criar multidões de santos e anjos de inescapável doçura e inocência.[50]
Estes três estavam entre os que foram comissionados para pintar as paredes da Capela Sistina, no Vaticano, obra que havia sido iniciada por Perugino em 1479. Leonardo não fez parte desta comissão de prestígio; sua primeira encomenda significante, a Adoração dos Magos, para os monges de Scopeto, nunca foi terminada.[20]
Em 1476, durante o período em que Leonardo esteve ligado ao atelier de Verrocchio, o pintor flamengo Hugo van der Goes chegou em Florença, trazendo o Retábulo de Portinari e as novas técnicas de pintura do Norte da Europa que afetariam profundamente os pintores florentinos do período. Em 1479 o pintor siciliano Antonello da Messina, que trabalhava exclusivamente com óleos, viajou para o norte, em direção a Veneza, onde o principal pintor da cidade, Giovanni Bellini, também adotara a técnica da pintura a óleo, transformando-a rapidamente na técnica preferida do local. Leonardo também visitaria Veneza algum tempo depois.[49]
Como dois arquitetos contemporâneos, Bramante e Antonio da Sangallo, o Velho, Leonardo experimentou com projetos para igrejasplanejadas centralmente, diversas das quais aparecem em seus diários, tanto em plantas quanto vistas — embora nenhum destes projetos tenha chegado a ser posto em prática.[50] [51]
Os contemporâneos políticos de Leonardo foram Lourenço de Médici (il Magnifico), três anos mais velhos que ele, e seu popular irmão mais novo, Juliano, morto na Congiura dei Pazzi de 1478. Ludovico Sforza (il Moro), que governou Milão entre 1479 e 1499, período durante o qual Leonardo foi enviado como embaixador em nome da corte dos Médici, também tinha aproximadamente a mesma idade.[48] [50]
Juntamente com Alberti, Leonardo passou a frequentar o lar dos Médici, e através deles conheceu filósofos humanistas como Marsilio Ficino, proponente do neoplatonismoCristoforo Landino, autor de comentários sobre os escritos da Antiguidade Clássica, e João Argyropoulos, professor de grego e tradutor das obras de Aristóteles. Outro contemporâneo de Leonardo que também teve seu nome associado à Academia dos Médici foi o jovem e brilhante poeta e filósofo Pico della Mirandola.[49] [52] Leonardo escreveu mais tarde, na margem de um de seus diários: "Os Médici me fizeram, e os Médici me destruíram." Embora tenha sido através de Lourenço que Leonardo receberia importantes trabalhos em Milão, não se sabe o que ele quis dizer exatamente com este comentário críptico.[20]
Embora costumem ser agrupados como os três gigantes do Alto Renascimento, Leonardo, Michelangelo e Rafael não pertenceram à mesma geração. Leonardo tinha vinte e três anos quando Michelangelo nasceu, e trinta e um no nascimento de Rafael, este último teve uma vida curta, morrendo em 1520, no ano após a morte de Leonardo; já Michelangelo continuou criando por mais 45 anos.[48] [49]

Vida pessoal

Ao longo da vida de Leonardo, seu extraordinário poder de inventividade, sua "espetacular beleza física", "graça infinita", "grande força e generosidade", "espírito régio e tremendo alcance mental", como foram descritos por Vasari,[23] atraíram a curiosidade daqueles que o cercavam. Diversos autores especularam sobre os vários aspectos da personalidade de Leonardo; um deles, a sua adoção de éticas e práticas pessoais, que podem ser ocasionadas de sua crescente admiração pela natureza e suas criaturas, como pode ser exemplificado por seu vegetarianismo e o hábito, descrito também por Vasari, de comprar pássaros engaiolados e libertá-los.[23] [53] [nb 22]
Leonardo teve muitos amigos que se tornaram profissionais renomados em seus campos, ou que são célebres até hoje por sua importância histórica. Entre eles está omatemático Luca Pacioli, com quem ele colaborou num livro na década de 1490, assim como Franchinus Gaffurius e Isabella d'Estea grande dama do Renascimento.[54] Com a exceção desta última, Leonardo parece não ter se relacionado intimamente com mulheres. Isabella foi retratada por ele durante uma viagem que levou-os a Mântua; o retrato teria sido usado como rascunho para uma pintura, que já não existe mais.[20]
Além de suas amizades, Leonardo mantinha sua vida privada em segredo. Sua sexualidade foi alvo frequente de estudos, análises e especulações. Esta tendência já se tinha iniciado no meio do século XV, e tomou novo ímpeto nos séculos XIX e XX, especialmente a partir de Sigmund Freud.[55]

Assistentes e pupilos

Ver artigo principal: Leonardeschi
Salai, criado de Leonardo da Vinci, como São João Batista (c. 1514) —Louvre
Os relacionamentos mais íntimos de Leonardo foram com seus dois pupilos, Gian Giacomo Caprotti da Oreno, apelidado Salai ou il Salaino ("pequeno diabo" na gíria da época), que entrou para o seu convívio familiar em 1490. Depois de apenas um ano, Leonardo fez uma lista de suas contravenções, chamando-o de "um ladrão, um mentiroso, teimoso, e glutão", depois de ele ter roubado dinheiro e objetos de valor em pelo menos cinco ocasiões, e gastar uma fortuna em roupas.[56] Ainda assim, em seus primeiros anos, os cadernos de Leonardo contêm diversas pinturas do estudante, que permaneceu como parte da família de Leonardo pelos trinta anos seguintes.[18]Salai também fez uma série de pinturas, sob o nome de Andrea Salai; embora Vasari tenha alegado que Leonardo "ensinou-lhe muito sobre pintura",[23] sua obra é geralmente considerada como tendo um mérito artístico menor do que outros pupilos de Leonardo, comoMarco d'Oggione e Boltraffio. Em 1515 Salai pintou uma versão nua da Mona Lisa, conhecida como Mona Vanna.[57] O próprio Salai era proprietário da Mona Lisa na ocasião de sua morte, em 1525, e em seu testamento ela foi estimada em 505 liras, um valor excepcionalmente alto para um pequeno retrato.[58]
Em 1506 Leonardo acolheu outro pupilo, o conde Francesco Melzi, filho de um aristocrata da Lombardia. Melzi, estudante predileto de Leonardo, viajou com o tutor para a França, onde esteve ao seu lado durante todo o fim de sua vida.[20] Com a morte de Leonardo, Melzi herdou as coleções, manuscritos e obras artísticas e científicas de Leonardo, patrimônio que ele administrou fielmente a partir de então.[59]

Obra artística

Ver também: Trattato della Pittura
Esboço a carvão para A Última Ceia.
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Quando ouvimos os sinos, ouvimos aquilo que já trazemos em nós mesmos como modelo. Sou da opinião que não se deverá desprezar aquele que olhar atentamente para as manchas da parede, para os carvões sobre a grelha, para as nuvens, ou para a correnteza da água, descobrindo, assim, coisas maravilhosas. O gênio do pintor há-de se apossar de todas essas coisas para criar composições diversas: luta de homens e de animais, paisagens, monstros, demônios e outras coisas fantásticas. Tudo, enfim, servirá para engrandecer o artista.
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Leonardo da Vinci

Introdução

Pintura inacabada, c. 1480, Palácio Apostólico, Vaticano
Apesar do recente interesse e admiração por Leonardo como cientista e inventor, durante mais de quatrocentos anos a sua enorme fama apoiou-se nos seus feitos como pintor e num punhado de obras, autenticadas ou atribuídas a ele, que têm sido vistas desde então como algumas das obras-primas supremas já criadas pelo homem.[60]
Estas pinturas ficaram famosas por uma série de qualidades que foram muito imitadas por estudantes e discutidas extensivamente por conhecedores e críticos. Entre algumas destas qualidades que tornam a obra de Leonardo única estão as técnicas inovadoras que ele usou na aplicação da tinta, seu conhecimento detalhado de anatomialuzbotânica e geologia, seu interesse na fisiognomonia e na maneira pelo qual os humanos registram emoções em suas expressões e gestos, seu uso inovador da forma humana em composições figurativas, e o uso da graduação sutil da tonalidade. Todas estas qualidades encontram-se reunidas em suas obras mais famosas, como a Mona LisaA Última Ceia e a Virgem dos Rochedos.[61]
Última Ceia (L'ultima cena ou Cenacolo), em Milão, é uma das mais conhecidas pinturas atribuídas a da Vinci, exposta no refeitório do convento de Santa Maria delle Grazie e tema central da obra O Código da Vinci de Dan Brown, assim como a Mona Lisa (também conhecida como La Gioconda, exposta no museu do Louvre, em Paris).
Leonardo não foi um pintor prolífico, mas foi o mais prolífico desenhista (projetista), mantendo diários cheios de pequenos rascunhos e desenhos detalhados registrando todas as coisas que lhe chamavam atenção. Juntamente com os diários, existem diversos estudos de pinturas, alguns dos quais podem ser identificados como preparações para trabalhos específicos como A Adoração dos Magos, a Virgem dos Rochedos e A Última Ceia.[62] Seu desenho mais antigo, é oVale do Arno (1473), que ostenta as montanhas tão frequentes em suas obras.[20] [62]
Entre seus desenhos mais famosos está o Homem Vitruviano, um estudo das proporções do corpo humano, e a Cabeça de Anjo, esboço de Uriel em A Virgem dos Rochedos, no Louvre, e um grande desenho em giz, A Virgem, o Menino, Sant'Ana e São João Batista, naNational Gallery em Londres.[62] Este desenho emprega o efeito sutil do sfumato, técnica de sombreado presente em Mona Lisa. Pensa-se que Leonardo nunca fez uma pintura a partir dele, mas há uma notável semelhança com a pintura A Virgem e o Menino com Santa Ana, atualmente no Louvre.[18]
Outros desenhos de interesse incluem numerosos estudos geralmente referidos como "caricaturas", porque, embora exagerados, parecem ser baseados em observação de modelos vivos, como Cabeças Grotescas. Vasari refere que, se Leonardo encontrasse pessoas com personalidade interessante, ele iria acompanhá-las o dia todo observando.[23] Existem numerosos estudos de belos jovens, muitas vezes associados a Salai, com sua rara e muito admirada beleza facial, o então chamado "perfil grego". Outros estudos muito detalhados são os de roupagens, um bom exemplo é o macabro Retrato de Bernardo di Bandino Baroncelli executado, em que com desapaixonada integridade Leonardo descreve as vestes do participante da Congiura dei Pazzi.[62]

Primeiras obras

Em Florença, 1469–1482

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Il bono pittore ha da dipingere due cose principali, cioè l'homo e il concetto della mente sua. Il primo è facile, il secondo difficile perché s'ha a figurare con gesti e movimente delle membra.
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— Leonardo da Vinci[nb 23]
Retrato de Bernardo di Baroncelli executado
Imagem horizontalmente invertida para visualização legível da escritaleonardiana
Leonardo da Vinci nasceu no seio de uma família cujas posses equivaliam à riqueza das famílias que hoje chamamos classe-média, instruída e altruísta. Jovem, Leonardo revelou desde cedo uma aptidão genial para o desenho, área em que, tecnicamente, mais se destacou, pelo menos na sua carreira prematura.[63] [64]
Segundo, Giorgio Vasari, sua família, amiga íntima da família de Verrocchio, tinha um estreito contato com a arte florentinaMesser Piero, pai de Da Vinci, levou um dia alguns dos trabalhos de Leonardo ao ateliê do pintor, questionando-o sobre o eventual talento de Leonardo e se valeria a pena investir no jovem. Verrocchio ficou espantado com a habilidade de Leonardo e, prontamente, aceitou o jovem no seu estúdio.[65]
Os trabalhos prematuros de Leonardo resumiam-se, de fato, a desenhos, esboços a carvãotinta nanquim ou aguada. Embora somente se conheça um retrato masculino a óleo na sua obra, o pintor explorou com ênfase o retrato da virilidade masculina, um interesse que se revela mesmo neste tempo de aprendiz. Um dos seus trabalhos mais intrigantes deste início de carreira é Retrato de Bernardo di Baroncelli executado, já no estúdio de Verrocchio, a pena e tinta, realizado a caneta de aparo sobre papel preparado, que conclui o maior registro desenhado, realizado em 29 de dezembro de 1479. Trata-se do retrato de um cadáver, um participante da Congiura dei Pazzi, executado pelo assassinato de Juliano de Médici.[66] Na inscrição no topo do papel, Leonardo descreve o vestuário do executado, incluindo as cores com sua típica escrita invertida.[nb 24] [68] Na margem inferior direita do trabalho aparece ainda uma cabeça. Referência notável para o seu trabalho é a facilidade e o domínio do traço, que revelaria mais tarde no pincel. Duas outras pinturas parecem datar deste seu período no ateliê de Verrocchio, ambas Anunciações. Uma é pequena, com 59 centímetros por 14; é uma predella, destinada a adornar a base de uma composição maior — neste caso, uma pintura de Lorenzo di Credi da qual ela foi separada. A outra é uma obra muito maior, com dois metros e 17 centímetros.[18] Em ambas as Anunciações Leonardo utilizou-se de um arranjo formal (como nas célebres pinturas de Fra Angelico sobre o mesmo assunto), da Virgem Maria sentada ou ajoelhada à direita do quadro, com um anjo de perfil se aproximando pela esquerda, com as asas eretas e portando um lírio em um cenário aberto, com um rico jogo de perspectiva linear.[nb 25] Embora tenha sido atribuído anteriormente a Ghirlandaio, a maior das duas obras é considerada de maneira unânime nos dias de hoje como sendo de Leonardo.[71]
Na menor das pinturas, Maria desvia seus olhos, e dobra suas mãos, num gesto que simbolizava a submissão à vontade de Deus; na outra, no entanto, Maria não está nem um pouco submissa. A bela jovem, interrompida em sua leitura por este inesperado mensageiro, coloca um dedo na sua Bíblia para marcar o lugar onde parou e levanta sua outra mão num gesto formal de saudação ou surpresa.[50] Esta jovem tranquila parece aceitar seu papel como a Mãe de Deus, não com resignação, mas com confiança. Nesta pintura, o jovem Leonardo apresenta a facehumanista da Virgem Maria, reconhecendo o papel da humanidade na encarnação de Deus.[72]
ANGELICO, Fra Annunciation, 1437-46 (2236990916).jpgLeonardo da Vinci - Annunciazione - Google Art Project.jpg
A Anunciação de Fra Angelico
1437–1446
A Anunciação de Leonardo da Vinci
1472–1475
Uma série de estudos meticulosos o levou a concretizar trabalhos como A Anunciação ou a futura Virgem do Cravo. O estudo de roupagens das personagens das obras são um dos marcos do seu percurso artístico, concebidos com uma primazia notável.[73] [74] Baseando-se em esculturas ou modelos de madeira ou terracota, cobertos por panejamentos e joias — algo em voga, para não ter que pagar cortesãs para posarem para si — Leonardo desenvolveu as suas competências no desenho e sabendo-o bem, no seu Trattato della Pittura, aconselha os artistas a praticarem o desenho através do estudo de relevos e esculturas.[nb 26] Estes estudos, primeiramente postos em prática pelo artista, prepararam um génio sagaz e um mestre inconfundível. O humanista Paolo Giovio e Vasari referem constantemente nas suas obras, a perfeição do jovem artista nos seus desenhos. Vasari refere mesmo que "os desenhos de Da Vinci são tão perfeitos e relatam tão incansável procura por novos detalhes, com um esforço de imaginação soberbo, que dificilmente os conseguem igualar."[75]
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A natureza benigna providenciou de modo que em qualquer parte você encontra algo para aprender.
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— Leonardo da Vinci
Detalhe do anjo atribuído a Leonardo em O Batismo de Cristo; caracterizado pela beleza, apresenta grande perfeição de perfil,[54] que expressaria com total maestria no Anjo Uriel em sua futuraVirgem dos Rochedos.
Nesta época, Leonardo desenvolveu um vitium (na acepção portuguesa, uma «obsessão») pela perfeição das obras e desenvolveu imensamente a sua técnica, que o levou a criar outras inéditas, como o sfumato, hoje conhecido através da Mona Lisa. Tal exigência para consigo próprio levaria à não conclusão de diversos trabalhos, pois assim que os iniciava punha-os de lado, tal era a rapidez e eficácia com que aprendia novas técnicas.
Ao mesmo tempo em que realizava os seus famosos estudos de roupagens, Leonardo concretizou vários desenhos e estudos a partir danatureza. Estes são tipificados pelo trabalho que produziu ainda enquanto aprendiz, assim como uma das primeiras obras datadas constantes entre a coleção da Galeria dos Uffizi, atualmente. No canto superior de o Vale do Arno aponta, na sua acostumada escrita invertida, «no dia de Santa Maria do Milagre da Neve,[nb 27] 5 de agosto de 1473».[29]
Estudo a pena e tinta sobre um suporte preparatório quase invisível, mostra a vista sobre um vale com montes e escarpas de ambos os lados, abrindo no fundo uma escassa visibilidade do mar. A vista poderá ser do caminho entre Vinci e Pistoia e, provavelmente, terá sido esboçado a lápis ao ar livre in loco, e depois completada a pena e tinta no ateliê. No início do século XXWoldemar von Seidlitz compreendeu as fortificações de Papiano nas muralhas e torres numa colina à esquerda da composição. A importância deste desenho não se reflete só no fato de ter sido feito por Leonardo, mas sim, em figurar como um dos primeiros desenhos autónomos de paisagens de toda a História da Arte.[76][77]
Vale do Arno
5 de agosto de 1473
Estes estudos da natureza e de modelos vivos eram postos em prática nas suas obras pintadas, como no Batismo de Cristo, onde, conclusivamente, pintou o anjo que segura às vestimentas de Cristo, que é de longe, muito melhor e elegante que as figuras pintadas por Verrocchio e Botticelli, e a paisagem de sutis transições de tons cromáticos, com incríveis efeitos da luz, desfocando contornos de montanhas e colinas distantes, fundindo-as a uma neblina luminosa — efeito obtido pelo emprego prematuro do óleo em sua obra artística —, uma evocação ao desenho do Vale do Arno e antecipação do fundo de Mona Lisa.[54]

Vida profissional, 1476–1513

Dando início à carreira profissional de artista, o retrato de uma jovem foi encomendado diretamente a Leonardo. Marcante, o retrato possui uma forte presença iconográfica e uma austera amargura.
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Cosa bellissima
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Leonardo da Vinci 048.jpgRückfläche Ginevra de' Benci.JPG
Frente e reverso de Ginevra de' Benci
Prematuramente noiva de Luigi di Bernardo di Lapo Niccolini, a juventude de Ginevra, filha de Amerigo Benci, um banqueiro,[79] e possivelmente desejada do embaixador de Veneza, Bernardo Bembo alcançou a eternidade com esta pintura, encomendada provavelmente pelo último,[54] embora seja sugerido que a encomenda tenha sido feita pela família da jovem em comemoração de seu casamento.
A pintura, inicialmente maior, sofreu danos, e proprietários posteriores provavelmente a compactaram[78] [79] com um corte de cerca de nove centímetros em sua parte inferior. Tal suposição é sustentada pela pintura do reverso, e por umdesenho preparatório de mãos, que seria da mesma jovem. O desenho encontra-se na Royal Library, Castelo de Windsor.[54]
Tem-se conta de que o nome da jovem e o da pintura formam um jogo iconográfico de palavras.[78] Atrás da bela jovem, surge uma juniperus. A palavra italiana que define esta árvore é ginepro, significando genebra ou zimbro.[78] Contudo, o significado renascentista da árvore era a pureza e a castidade.[79] Esta ideia é reforçada pela frase inscrita no reverso da pintura, na qual está pintado um pergaminho com louros e uma palma, ambos em torno de um pequeno ramo de zimbro. No pergaminho há os seguintes dizeres: A beleza adorna a virtude[78] (VIRTUTEM FORMA DECORAT).[54]
A criptografia
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uomo senza lettere
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— Leonardo da Vinci[nb 28]
Alguns historiadores e especialistas concluem que Leonardo gostava muito de distorcer coisas como em um quebra-cabeça. Muitos acham que sua escrita invertida era um código que protegia seus esboços contra espiões. Segundo Bruce Peterson, da RYP Australia Major Projects, Leonardo da Vinci escrevia assim porque era canhoto[80] e não queria borrar os textos que criava febrilmente. Já historiadores acreditam que esta escrita era um sinal de que Leonardo da Vinci tinha dislexia, pois escrevia de forma embaralhada e às vezes gostava de formar anagramas.
A expressão facial da jovem é o mais intrigante na pintura. Olhando o espectador sem encarar, a incerteza dos seus sentimentos intriga os especialistas; não se sabe se está cansada, triste, serena, zangada, ou seja, um rol de sentimentos inacabáveis que a expressão facial lhe atribui. Uma jovem que oculta o íntimo, modesta, ausente de joias,[79] tem como maior adorno a própria beleza natural como a paisagem que a cerca, o que poderia justificar a inscrição do reverso.

Obras da década de 1480

Na década de 1480 recebeu três importantes encomendas e começou outro trabalho ainda, cujo tema abriu uma rotura em termos de composição. Infelizmente, dois desses três trabalhos nunca foram acabados (devido a sua partida para Milão) e o terceiro levou tanto tempo, que tornou-se alvo de longas negociações ao longo da sua execução e pagamento. Uma destas pinturas é São Jerônimo no Deserto. Esta pintura é associada com um período difícil da vida de Leonardo, e coincide com sinais de melancolia encontrados em seu diário: "Achei que estava aprendendo a viver; estava apenas aprendendo a morrer."[20] A composição da pintura foge às práticas costumeiras da época;[84] São Jerônimo, como um penitente, ocupa o centro da figura, levemente inclinado diagonalmente, e visto quase que de cima. A sua forma, ao ajoelhar-se, adquire um contorno trapezoide, com um braço esticado à borda exterior da pintura, e seu olhar virado para a direção oposta; alguns estudiosos apontam na obra ligações com os estudos anatômicos de Leonardo.[nb 30] [41] Da Vinci serviu-se de um modelo de madeira e pano para conceber a figura do santo, como se fazia na altura. Para o poder pintar nesta posição, a cabeça de Leonardo colocava-se à mesma altura que o meio da tíbia do modelo, pintando-o na diagonal. Por toda a extensão do quadro está o seu símbolo, um grande leão cujo corpo e cauda formam uma espiral dupla ao longo da base do espaço da pintura. Outra característica que se destaca é o cenário incompleto, de rochas escarpadas, contra o qual a figura está delineada.
Virgin of the Rocks (Louvre).jpgLeonardo da Vinci - Virgin of the Rocks (National Gallery London).png
A Virgem dos Rochedos
Versão do Louvre
(Primeira Versão)
1483–1486
A Virgem dos Rochedos
Versão de Londres
(Segunda Versão)
1495–1508
Outra composição um tanto quanto atrevida, os elementos paisagísticos e o drama pessoal ressoam na obra de arte inacabada: A Adoração dos Magos, encomenda dos monges de San Donato a Scopeto. É uma composição muito complexa sobre cerca de 250 cm de largura e comprimento de uma placa de madeira. Para este trabalho o artista esboçou vários desenhos e numerosos trabalhos e estudos preparatórios, incluindo um detalhe de umaperspectiva linear das ruínas de um edifício clássico. Mas em 1482 Leonardo saiu com destino a Milão por ordens de Lourenço de Médici, em tributo a Ludovico Sforza, o mouro, e a pintura e todo o trabalho que havia tido foi abandonada.[18] [71]

Em Milão, 1482–1499

Em Milão, o primeiro registo de Leonardo da Vinci é um contrato de uma Confraria religiosa intitulada Imaculada Conceição, datado de 25 de abril de 1483, para a pintura de um retábulo para abrilhantar o altar da capela de São Francisco, o Grande.[17] O resultado seria o terceiro mais importante trabalho pictórico do artista, A Virgem dos Rochedos.
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Que o teu orgulho e objetivo consistam em pôr no teu trabalho algo que se assemelhe a um milagre.
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— Leonardo da Vinci[85]
A Virgem dos Rochedos (Versão Cheramy) (1494–1497),[86] é uma pintura que, juntamente a uma representação de Maria Madalena, é atribuída a Giampietrino, pupilo de Da Vinci, da qual, acredita-se atualmente, que Leonardo possivelmente tenha participado, embora essa afirmação não seja unânime.[87] Realizada após a versão do Louvre e anterior a versão de Londres.[86] Foi exibida na mostraLeonardo, Genio e Visione in terra Marchigiana no Museu Mole Vanvitelliana, em Ancona por Carlo Pedretti e Giovanni Morello (2005-2006).[88]
A encomenda era a execução de pinturas com a ajuda dos imãosAmbrogio e Evangelista de Predis, para um grande e complexo altar, já construído anteriormente por Giacomo da Maiano.[17] [41]Leonardo, encarregado do painel central, escolheu pintar um enfático momento da infância de Cristo, quando o pequeno João Baptista, com a proteção do anjo Uriel, conheceu a Sagrada Família numa gruta do Egito, cena da tradição cristã dos livros apócrifos e de umaFlorença deixada para trás, de numerosas lendas sobre São João Batista.[89] [90] Neste cenário rochoso que evoca a um passeio de infância do artista ao Monte Ceceri (próximo do território florentino),[54] João reconhece e adora Jesus como o Cristo. A pintura mostra uma misteriosa beleza como as graciosas figuras ajoelhadas em adoração em torno do Menino Jesus, em uma paisagem selvagem de queda de rochas e um vale de águas azuis, e coincide com a abandonada Adoração dos Magos devido ao seu naturalismo e contraste de luz e sombra (chiaroscuro),[54] aqui distintamente visível. A pintura solenemente declara a riqueza do conhecimento estilístico do traje e da sua representação, a julgar pela concepção notável do vestuário de Uriel (que compete com a simples túnica enegrecida azul da Virgem), impressa numa figura sóbria e imponente, que perde lugar na segunda versão onde assume outra pose, desta feita mais singela, cedente a uma nova Virgem vestida de um manto de azul brilhante, suavizando o cenário áspero[54] e contrastando com a representação da primeira versão. Apesar das avantajadas medidas, cerca de 200 por 120 cm (a segunda versão existente cerca de 190 por 120 cm), a pintura da Virgem nas Pedras não é tão complexa quanto a encomenda dos monges de São Donato, constando em cena somente quatro figuras em vez de cerca de cinquenta — cuja forma conjunta completa uma pirâmide triangular — numa paisagem rochosa, em vez de detalhes arquitetônicos. Eventualmente, a pintura foi acabada. De fato, duas versões desta pintura foram feitas, uma entregue a Confraria religiosa e a outra levada para a França pelo próprio Leonardo.[18] [25]
Acredita-se que a versão do Louvre seja a primeira das versões, pintada entre 1483–1486, ou mais cedo.[91] A segunda versão, pertencente a National Gallery desde 1880, foi vendida pela igreja em 1781, e,certamente, em 1785 tornou-se posse de Gavin Hamilton, que a levou para a Inglaterra, onde passou por várias coleções.[91] Nesta versão é provável a participação de outros artistas comoAmbrogio de Pedris, e, de certo modo, mesmo tratando-se de uma pintura mais madura, seu naturalismo perde lugar para um idealismo muito maior do que o da versão anterior.[54]
Atualmente, existe a especulação de uma outra versão[87] (Versão Cheramy), em que Leonardo tenha participado, cronologicamente anterior a versão de Londres.
Arquitetura militar
Durante seu período em Milão com Ludovico Sforza, Leonardo projetou vários prédios com armas de guerra e reforços. Sua habilidade para arquitetura militar contribuiu para sua fama entre os Sforza.
Entre seus mais formidáveis projetos militares está uma escada para uso numa torre fortificada. O projeto incluía quatro rampas independentes de outras. Assim, os soldados podiam subir e descer de 4 andares sem esbarrar em grupos de soldados que iam em direção contrária.
Em 1502, Leonardo projetou um fosso interessante. Ele escondeu uma torre cilíndrica debaixo d'água com um teto levemente inclinado que saía um pouco da superfície da água. Os defensores que estivessem dentro da torre poderiam disparar suas armas através da superfície da água.Feno molhado cobria o teto da torre contra os danos causados pelos disparos.
Leonardo projetou também um castelo com sistema triplo de segurança. Um dos cantos dessa construção tinha duas fortificações: a primeira estendia-se até o canto do forte e a outra estendia-se sobre parte da parede externa.

Encargos na Corte

Entre 1487 e 1490, Leonardo assume uma posição de destaque na corte milanesa. O seu trabalho não se resumia a pintar, e entre outras coisas, também era responsável pela organização de festividades, trabalho que intimamente não o contentava;[13] trabalhou vários anos na realização de uma estátua equestre para o antecessor de Ludovico, Francesco Sforza, que nunca concluiu e na edificação de estruturas defensivas, como arquiteto militar do duque. Leonardo também participou da decoração de quartos e apartamentos da corte (sendo somente parte da Salla delle Asse trabalhada por volta de 1498, o que restou deste encargo), e na decoração do refeitório dos padres dominicanos de Santa Maria delle Grazie (1495–1498).[17]
É nesta época de grandes feitos que inúmeros retratos de mulheres intimamente ligadas ao seu patrono são realizados, entre eles o retrato de uma jovem muito admirada na corte, cujo resultado seria uma mistura da linguagem iconográfica de Ginevra de' Benci e o naturalismo da Virgem dos Rochedos.
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O mais belo desenho do mundo.
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— Bernard Berenson[54]
Retrato de Cecília Gallerani,Dama com Arminho. É possível notar, na ponta dos dois dedos inferiores, retoques grosseiros, assim como na região esquerda do modelo, efeito de restaurações posteriores.[54]
Entre as suas obras acabadas ocupa uma posição de destaque um retrato de uma senhora da aristocracia, que segura nas mãos um arminho: o retrato de Cecília Gallerani, mundialmente conhecido como Dama com Arminho. Pintado por volta de 1488, o quadro concentra todas as inovações de Leonardo na época: a representação do rosto virado em uma posição de três-quartos, o gesto da mão,[nb 32] a definição da forma pela luz e a representação do movimento interrompido[92] visando uma estrutura helicoidal.[54] Cecília parece reagir à presença de alguém fora da pintura, em um movimento de giros de cabeça e tronco, o arminho de tamanho um tanto exagerado, repete-lhe o gesto, a mão curvada elegantemente corresponde, por sua vez, ao movimento do animal, criando um sintonia entre modelo e o arminho.
De fato, a linguagem iconográfica utilizada por Leonardo nesta obra — que nos remete a uma pintura de sua fase inicial, a Ginevra de' Benci—, fez com que permanecessem vários mistérios em relação ao simbolismo do arminho. Acredita-se que o arminho é uma alusão ao apelido da jovem aristocrata,[54] visto que o som de «Gallerani» é remanescente da acepção grega para arminho, "galée". Noutra vertente, o animal é considerado um sinal de pureza, pois, acreditava-se, o arminho preferia morrer em uma caçada, do que se refugiar em alguma toca, para não sujar seu manto branco.[17] [93] Porém, a razão mais provável é a terceira, ou seja, a alusão a Ludovico Sforza.[54] A jovem era a amante de eleição de Ludovico e, a partir de meados de 1488, este começou a usar o arminho como um dos seus emblemas. Assim Ludovico, sob a simbólica forma de animal, surge no regaço da jovem, bem penteado e acariciado pelas mãos da sua amante. Existem provas documentais de que o quadro pertenceu a retratada.

Obras da década de 1490

  • Retratos de Perfil
Ambrogio de Predis - Ritratto di una dama.jpgProfile of a Young Fiancee - da Vinci.jpg
Retrato de Mulher de PerfilLa Bella Principessa
Retrato de Mulher de Perfil (c. 1493–1495), trata-se do retrato da esposa de Ludovico Sforza, Beatriz d'Este. Pintado, provavelmente, por Ambrogio de Pedris, com a qualidade do traço da cabeça da retratada sugerindo, segundo Martin Kemp, professor emérito de pesquisa em história da arte na Universidade de Oxford, que Leonardo tenha participado da pintura, se responsabilizando pelas bases do desenho.[17] A atribuição é reforçada de forma recíproca com a atribuição de um quadro a que, inicialmente, foi dada origem alemã, do século XIX, mas que foi, em 2009, atribuído a Leonardo.[94] Trata-se de um retrato de mulher igualmente de perfil e com características semelhantes ao retrato de Cecília Gallerani, que foi identificado graças a uma impressão digital e análises científicas. Inicialmente denominado Mulher de Perfil com Vestido da Renascença, foi renomeado de La Bella Principessa por Kemp, que identificou a retratada como Bianca Sforza, filha de Ludovico Sforza e sua amante Bernardina de Corradis. Os membros da família Sforza sempre foram retratados em perfil, em contraste com as amantes de Ludovico que não eram.
Por volta deste período datam-se mais dois retratos atribuídos ao artista, o inacabado Retrato de um Músico, seu único retrato pictórico masculino e La Belle Ferronière, retrato de Lucrezia Crivelli, amante de Ludovico, encerrando um ciclo de retratos femininos na corte milanesa.
Há uma referência documentada de uma encomenda, possivelmente do duque Ludovico Sforza, presente em uma lista que instruía um de seus funcionários, Marchesino Stanga, com tarefas que lhe exigiam atenção. Uma das tarefas era que
Apresse Leonardo, o florentino, a terminar o trabalho no refeitório delle Grazie, que ele começou, para que se ocupe em seguida do outro salão do refeitório delle Grazie; e que os contratos que ele assinou com sua mão sejam cumpridos, pois o obrigam a terminar o trabalho dentro do tempo que será combinado com ele — Ludovico Sforza[17]
Cquote1.svgAs mãos e os braços, em todas as suas ações, devem exibir a intenção da mente que os move, até quando for possível, porque, por meio deles, quem tiver um bom julgamento mostrará intenções mentais em todos os seus movimentos.Cquote2.svg
— Leonardo da Vinci[54]
A pintura mais famosa de Leonardo, da década de 1490, é A Última Ceia (1495–1498), pintada no refeitório dos padres dominicanos de Santa Maria delle Grazie em Milão. É uma obra fundamental da história da Arte. A pintura apresenta a Última Ceia, partilhada por Jesus com seus discípulos, antes de sua captura e execução. Mostra o momento específico em que Jesus, de acordo com o relato bíblico, teria dito aos apóstolos que um deles o trairia. Leonardo mostra a consternação que esta afirmação provocou entre os doze seguidores de Jesus.[25] O romancista Matteo Bandello observou Leonardo trabalhando na obra, e escreveu que
Por diversas ocasiões, presenciei Leonardo dirigir-se logo pela manhã para se dedicar à pintura de A Última Ceia. Costumava permanecer ali, desde o nascer do sol até o entardecer, sem deixar os pincéis descansarem de suas mãos, pintando sempre, sem comer nem beber. Depois, por três ou quatro dias, não voltava a tocar no trabalho" — Matteo Bandello[54]
Isto, de acordo com Vasari, estava além da compreensão do prior, que o atormentou até que Leonardo pedisse a intervenção de Ludovico. Vasari descreve como Leonardo, atormentado com a dúvida de sua capacidade de retratar os rostos de Cristo e do traidor Judas, disse ao duque que seria obrigado a usar o próprio prior como seu modelo.[23][nb 33]
Quando terminada, a pintura foi aclamada como uma obra-prima do desenho e da caracterização,[23] porém rapidamente deteriorou-se, a tal ponto que, cem anos depois de seu término, a obra foi descrita por um observador seu como "completamente arruinada".[18] Leonardo, em vez de usar a técnica mais confiável do afresco, utilizou-se datêmpera sobre uma superfície feita basicamente de gesso — o que resultou num material sujeito ao mofo e a esfarelar-se.[18] Apesar disso, a pintura continua a ser uma das obras de arte mais reproduzidas de todos os tempos, e incontáveis cópias suas são feitas corriqueiramente, das maneiras mais variadas — de tapetes a camafeus.
Leonardo pintou A Última Ceia, um incrível trabalho, o mais sereno e distante do mundo temporal, durante anos caracterizado por conflitos armados, intrigas, preocupações e emergências. Ele a declarou como concluída, embora eternamente insatisfeito, e continuou trabalhando nela. Foi exposta a vista de todos e contemplada por muitos. Desde então ele foi considerado sem discussão como um dos primeiros mestres da Itália, senão o primeiro. Os artistas vinham de muito longe, para, no refeitório do convento de Santa Maria delle Grazie, analisar cuidadosamente a pintura, copiando-a e discutindo-a. O rei da França, ao chegar em Milão, acariciou a ideia impossível de remover o afresco da parede para levar para o seu país. Durante a sua realização muitas lendas foram tecidas em torno do mestre e seu trabalho. Os relatos de Bandello e Giraldi, dedicados a temas radicalmente diferentes, incluíram também a gênese de A Última Ceia.[29] [95] [96] [97]
Explode em Milão a Segunda Guerra Italiana (1499–1504), e Ludovico Sforza é deposto. Após a destruição de seu modelo em argila para o Gran Cavallo pelas tropas francesas, Leonardo sente-se fortemente motivado a abandonar a cidade. Acompanhado de Salai e seu amigo Luca Pacioli parte, passando por Mântua e depois Veneza, sendo aí empregado como engenheiro e arquiteto militar, e, no ano seguinte, vai para Florença.[18] [20]

Obras da década de 1500

Retorno a Florença, 1500–1506

Em Florença estão documentadas uma ou duas pequenas pinturas da Virgem com o Menino, trabalhadas por Leonardo e seu ateliê, por volta de 1501[17] em uma carta de Pietro da Novellara para Isabella d'Estea grande dama do Renascimento protetora das artes em Mântua.[54] [98] A pintura da Virgem do Fuso — como no caso da Virgem dos Rochedos com mais de uma versão —, destinava-se ao secretário de Estado francês Florimond Robertet, sendo-lhe entregue, provavelmente, uma de suas versões em 1507, em Blois.[99]
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Que o teu trabalho seja perfeito para que, mesmo depois da tua morte, ele permaneça.
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— Leonardo da Vinci[85]
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Virgem do Fuso
Duas versões atribuídas ao ateliê de Leonardo
como cópias de um original perdido,
ou instrucionadas pelo mestre
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Virgem do Fuso retrata uma cena de um forte vínculo entre mãe e filho — um amor maternal que se repetiria em pinturas como A Virgem e o Menino com Santa Ana —, o que leva a crer que a pintura fosse destinada a devoção privada.[99] O nome da obra baseia-se no fuso de significado ambíguo presente na pintura.
Ao longo dos tempos, vários críticos têm atribuído diversas interpretações ao fuso, mas o mais certo é mesmo que represente uma cruz, mas simplesmente, de forma simbólica.
De fato, a enorme inteligência e criatividade de Leonardo permitiam-lhe tratar todos os assuntos que lhe provocavam algum interesse recorrendo a símbolos. Caso queira representar uma cruz, especialistas apontam duas hipóteses, sendo a mais provável a segunda. Muitos creem, baseando-se nas cópias existentes, que o Menino mira o fuso (simbolicamente, a cruz) com uma devoção perplexa, reforçada pela expressão do seu olhar, que parece agradado com o objeto que tem em mãos. No entanto, em segunda hipótese está a ideia de que o Menino brinca com o fuso com alegria, o que seria considerado uma heresia na altura em que foi pintada, caso este represente uma cruz. A imagem de Jesus brincando com a cruz não seria aceita pela conservadora sociedade, e menos ainda pela Igreja e pelo Tribunal Inquisidor, o que reforçaria os fins de devoção privada.
Atualmente, existem duas versões associadas a Leonardo,[99] mas as atribuições não são unânimes. É provável que as pinturas sejam cópias do original de Leonardo, de autoria dos pupilos do artista, com ou sem o auxílio do mestre.
  • Mona Lisa
Ver artigo principal: Mona Lisa
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Imagem culminante da poética de da Vinci
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— Pietro C. Marani[54]
Mona Lisa (1503–1507 — Louvre) é o retrato que mais tem rendido, em termos de literatura — tem dado origem a contos, romances, poemas e até mesmo óperas (e paródia) desde seu tempo, como a Monna Vanna de Salai — em toda a história da arte. Foi uma obra famosa desde o momento da sua criação; e inspirou muitos, como o jovemRafael, que se embebedou nela. Seu sorriso sutil é visto em sua crueldade e tem sido considerado o implacável sorriso de mulher que escraviza os homens. Outros foram deslumbrados pelo seu encanto, pela sua doçura. Para o crítico Walter Pater, simboliza o "espírito moderno com todos os seus traços patogênicos",[96] considerando como a "beleza extraída desde o interior, trabalhando a carne, célula por célula".[54] Provocado pelo mestre no modelo com o toque do alaúde,[100]como citado por Vasari: "Mona Lisa era muito bela e Leonardo, ao mesmo tempo que a pintava, procurava que tivesse alguém cantando, tocando algum instrumento ou brincando. Desta forma, o modelo foi mantido em um bom humor e não adotava um aspecto triste, cansado [...]".[23]
Entre as obras realizadas por Leonardo na década de 1500 está um pequeno retrato, conhecido como Mona Lisa ou La Gioconda, "a risonha". A pintura é famosa principalmente pelo sorriso elusivo no rosto da retratada, e pela qualidade misteriosa, possivelmente provocada pelo fato de que o artista sombreou sutilmente os cantos de sua boca e olhos, para que a natureza exata do sorriso não pudesse ser determinada. Este sombreado peculiar, pelo qual a obra é conhecida, veio a ser chamado de sfumato("esfumaçado"). Vasari, que se acredita ter conhecido a pintura apenas pela sua reputação, disse que o seu "sorriso era tão agradável que parecia ser divino, em vez de humano; e aqueles que o viram ficaram espantados ao descobrir que ele parecia tão vivo quanto o original".[23] [nb 34]
Outra característica observada nesta obra é o vestido sem adornos (uma maneira de evitar que o espectador não tenha a sua atenção desviada dos olhos e das mãos da retratada), o cenário de fundo, dramático, no qual o mundo parece estar no estado de fluxo contínuo, com uma coloração controlada, e a natureza extremamente suave da técnica de pintura, que emprega tintas a óleoaplicadas como se fossem têmpera, e misturadas de tal maneira na superfície que as pinceladas não podem ser percebidas.[nb 35]Vasari expressou a opinião de que a maneira com que Leonardo fez a pintura faria mesmo "o mais confiante dos mestres (…)desesperar-se e desanimar."[23] O estado perfeito de conservação em que a pintura se encontra, e o fato de que não existem outros sinais de reparos relevantes ou pinturas sobrepostas é extremamente raro numa pintura desta idade.[18]
A identidade do modelo é motivo de controvérsias, acredita-se que seja Lisa del Giocondo (Lisa Gherardini), mulher de um comerciante florentino, Francesco del Giocondo, com base em notas escritas de Agostino Vespucci de 1503 em um livro impresso de Cícero, de 1477 (parte do acervo de livros datados da primeira fase da imprensa), encontradas na Biblioteca da Universidade de Heidelberg, confirmando a afirmação de Vasari, que identificou a pintura como "Monalisa" em sua publicação em 1550, em referência à Lisa del Giocondo. Descobriu-se também que Lisa tinha sido mãe recentemente, e o retrato foi realizado possivelmente em comemoração da recente maternidade.[102] [103] Esta teoria é reforçada pela descoberta de um fino véu negro — utilizado pelas aristocratas toscanas durante, e alguns meses após a gestação —, durante pesquisas do Centro de Pesquisa e Restauração dos Museus da França (C2RMF) e o Conselho Nacional de Pesquisas do Canadá (NRC), quando a pintura foi submetida ao exame em infravermelho.[104]
Lillian Schwartz, cientista dos Laboratórios Bell, sugere que a Mona Lisa é, na verdade, um autorretrato de Leonardo, porém, vestido de mulher. Esta teoria baseia-se no estudo da análise digital das características faciais do rosto de Leonardo e os traços do modelo. Comparando um autorretrato de Leonardo com a mulher do quadro, verifica-se que as características dos rostos alinham-se perfeitamente. Essa hipótese ganha ênfase em O Código da Vincibest-seller de Dan Brown.
O quadro está exposto no Museu do Louvre desde 1804 e é a maior atração dos seis milhões de visitantes anuais do museu[105] .
Em 1506, o então governador francês do ducado de Milão, Charles d'Amboise, solicitou ao governo de Florença a permissão para a viagem de Leonardo a Milão, para resolver o problema de trabalhos pendentes. A permissão concedida era de três meses, entretanto, o artista acabou permanecendo na cidade mais tempo do que o previsto.[54]

Retorno a Milão, 1506–1513

Não se sabe ao certo a natureza da origem do trabalho inacabado, é sugerido tratar-se da Virgem dos Rochedos versão deLondres, em que, em uma sentença judicial datada de 27 de abril, era cobrada a finalização da pintura à Leonardo e Ambrogio de Pedris.[54] Possivelmente, a pintura inicial tratava de uma cena de adoração ao Menino Jesus, já que exames em infravermelho realizados em 2005 revelaram uma pintura diferente oculta, por baixo da versão visível,[106] entretanto, Leonardo retomou a composição da anterior Virgem dos Rochedos de 1483, com leves alterações, e figuras maiores e mais monumentais do que a versão anterior. O fator da execução da mesma pintura é alvo de controvérsias, mas sabe-se que a versão de Londres foi a entregue, de fato, a confraria, mesmo provavelmente, ainda inacabada, e a anterior ficou em mãos de Leonardo.
Leonardo teve uma estranha carreira, de não cumprimento de prazos, de encomendas inconcluídas ou mesmo jamais entregues, o que resultava em clientes insatisfeitos e frequentes cobranças.[4] [17] Destes trabalhos inacabados, parece existir um importante que retoma as posições oblíquas de pinturas anteriores como São Jerônimo no Deserto, e cuja origem não é necessariamente de uma encomenda.
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Faça sempre suas figuras de tal modo que o tronco não esteja orientado na mesma direção da cabeça. Deixe o movimento da cabeça e dos braços ser suave e agradável, valendo-se de diferentes giros e torções.
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Leonardo da Vinci[54]
Nessa nova pintura, a coroação dos muitos desenhos e esboços do tema,[17] abordado pelo artista em diversas ocasiões como em A Virgem, o Menino, Sant'Ana e São João Batista,[54] Leonardo emprega novamente o sutil efeito do sfumato. A pintura retrata a Virgem Maria(cujo manto parece evocar a igualmente oblíqua Virgem Benois, uma de suas primeiras Madonas), seu filho Jesus e sua mãe Santa Ana, avó de Jesus, em uma cena privada e intimista. O que faz esta pintura incomum é que há duas figuras posicionadas obliquamente, sobrepostas. Maria está sentada no joelho de sua mãe, Santa Ana. Ela se inclina para frente para segurar o menino Jesus que brinca (um tanto grosseiramente) com um cordeiro, sinal de seu próprio e vindouro sacrifício.[25] Essa pintura copiada muitas vezes, foi influência paraMichelangeloRafael e Andrea del Sarto,[18] e através deles Pontormo e Correggio. Na composição, Leonardo mostra novidades que serão adotadas principalmente pelos pintores venezianos Tintoretto e Veronese.
Essa pintura assim como Mona Lisa acompanharia Leonardo desde então, entretanto devido a problemas, ficou por concluir.

Últimas obras

Leda e o Cisne, cópia de Cesare da Sesto, pupilo de Leonardo, baseado no original perdido.
Em 1512, Massimiliano Sforza, filho de Ludovico toma posse do ducado de Milão, após a expulsão das tropas francesas de Luís XII, e Leonardo viu-se sem patrono. Em 1513, o filho de Lourenço il Magnifico, Juliano de Médici, o então chefe do estado de Florença, fez um convite para Leonardo viajar a Roma, que estava sobre o controle do seu irmão mais velho, Giovanni (João), agora Papa Leão X.[13]

Em Roma, 1513–1516

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Os Médici me fizeram, e os Médici me destruíram
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— Leonardo da Vinci
Em 1513, Leonardo está hospedado no Palácio do Belvedere, no Vaticano, onde residiria até 1516, época em que seu rival MichelangeloRafael eram ativos em Roma.[13] [18] Leonardo então sente-se envolvido em crescentes problemas resultantes de seu afastamento da corte — incluindo intrigas com Michelangelo —, e depois é acusado e punido pelo papado devido aos seus estudos anatômicos, sendo proibido de continuar seus estudos por possíveis irregularidades sacrílegas, sendo que de seu patrono, Juliano, não houve nenhuma intervenção.[13] Suas últimas pinturas datam deste período em que o avanço de um problema de articulação em uma das mãos o faz aos poucos perder as forças, sendo que após esse período não pinta mais.[2] Suas últimas pinturas são São João Batista em que novamente emprega o sutil efeito do SfumatoLeda e o Cisne seu único nu, hoje perdido, e devido a fraqueza de sua mão, estava incapaz de dar continuidade a Virgem e o Menino com Santa Ana, que leva consigo, juntamente de outras pinturas como Mona Lisa para a França em 1516, onde viveria seus últimos anos acompanhado de Salai e Francesco Melzi, seu pupilo preferido.

Leonardo o observador, cientista e inventor

Cquote1.svgEle foi um homem que acordou cedo demais na escuridão, enquanto os outros continuavam a dormir.Cquote2.svg

Introdução

Estudos de embriões (1510–1513) nos quais retrata imagens impossíveis de se ver na época, mas completamente atuais.
humanismo renascentista não via polaridades mutuamente exclusivas entre as ciências e as artes, sendo os estudos de Leonardo, em ciências e engenharia, tão impressionantes e inovadores como o seu trabalho artístico, gravados em cadernos compostos por cerca de 13 000 páginas de notas e desenhos que fundem arte e filosofia natural (precursora da ciência moderna). Estas notas foram feitas e mantidas cotidianamente durante toda a vida de Leonardo e suas viagens, como ele fez em suas observações contínuas do mundo ao seu redor.[25]
Os cadernos são, em sua maioria, escritos de forma invertida (da direita para a esquerda). A razão pode ter sido mais uma oportunidade prática, do que por razões de sigilo como muitas vezes é sugerido. Sendo Leonardo provavelmente canhoto, é possível que lhe era mais fácil escrever da direita para a esquerda.[80]
Suas anotações e desenhos mostram uma enorme gama de interesses e preocupações, algumas tão banais como as listas de compras e as pessoas que lhe deviam dinheiro, e outras tão intrigantes como desenhos de asas e sapatos para caminhar sobre a água. Há composições de pinturas, estudos de detalhes e planejamentos, estudos de rostos e gestos, de animais, bebês, dissecações, estudo de plantas, formações rochosas, piscinas de hidromassagem, máquinas de guerra, helicópteros e arquitetura.[25]
Representação de umRombicuboctaedro por Leonardo, publicado em De Divina Proportioni de Pacioli.
Essas páginas de cadernos originalmente soltas, de diferentes tamanhos, distribuídas após sua morte, encontraram caminho em coleções importantes, como a Royal Library do Castelo de Windsor, o Museu do Louvre, a Biblioteca Nacional da Espanha, o Museu Vitória e Alberto, a Biblioteca Ambrosiana de Milão, que detém os doze volumes Codex Atlanticus, e a Biblioteca Britânica em Londres, que disponibilizou de forma on-line uma seleção a partir do seu caderno BL Arundel MS 263.[108] O Codex Leicester é a única grande obra científica de Leonardo em mãos privadas. É propriedade de Bill Gates e é exibido uma vez por ano em diferentes cidades pelo mundo.[109]
Os estudos de Leonardo parecem ter sido destinados à publicação, porque muitas das folhas têm uma forma e ordem que facilitam a mesma. Em muitos casos, um único tópico, por exemplo, o coração ou o feto humano, é abordado em detalhes em palavras e imagens, em uma única folha.[110] O motivo de eles não terem sido publicados durante a vida de Leonardo é desconhecido.[25]

Estudos científicos

Homem Vitruviano
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Datado do ano 1490, um estudo das proporções humanas baseado no tratado recém-redescoberto do arquiteto romano Vitrúvio. Leonardo debruçou-se sobre o que foi chamado o Homem Vitruviano, o que acabou se tornando um dos seus trabalhos mais famosos e um símbolo do espírito renascentista. O desenho reproduz a anatomia humana conduzindo eventualmente ao desígnio do primeiro robô conhecido na história que veio a ser chamado de O Robô de Leonardo.
Leonardo tentou entender os fenômenos e descrevendo em detalhe extremo, e não enfatizou experiências ou explicações teóricas. Ao longo de sua vida, planejou uma enciclopédia baseado em desenhos detalhados de tudo. Como não dominava o latim e a matemática, o Leonardo da Vinci cientista era ignorado pelos estudiosos contemporâneos, como evoca sua famosa frase uomo senza lettere, em que claramente se refere a tais limitações. Na década de 1490, estudou matemática com seu amigo, o matemático Luca Pacioli e preparou uma série de gravuras — incluindo o Homem Vitruviano — para ilustrar o livro de Pacioli, De Divina Proportioni, publicado em 1509.[25]
Parece que a partir do conteúdo de seus diários estava planejando uma série de tratados que seriam publicados em uma variedade de assuntos. Um tratado coerente sobre a anatomia foi dito ter sido observado durante a visita do cardeal secretário Louis D'Aragon, em 1517.[111] Aspectos do seu trabalho sobre os estudos de anatomia, luz e de paisagem foram montados para a publicação por seu pupilo Francesco Melzi e, finalmente publicado como Trattato della Pittura de Leonardo da Vinci, postumamente na França e na Itália em 1651, e na Alemanha em 1724,[112] com gravuras baseadas em desenhos do pintor clássico Nicolas Poussin. Segundo Arasse, o tratado, que na França foi publicado em sessenta e duas edições em cinquenta anos, ocasionou que Leonardo fosse visto como o precursor do pensamento acadêmico francês sobre a arte.[25]
Uma análise recente e exaustiva de Leonardo como cientista por Frtijof Capra[113] defende que Leonardo era um tipo fundamentalmente diferente de cientistas como GalileuNewton e outros cientistas que o seguiram. Sua experimentação seguiu claro, abordagens com métodos científicos, e juntamente a sua teorização e hipotética voltada às artes, particularmente na pintura, o fizeram um Leonardo único e integrado, em que pontos de vista holísticos da ciência, fazem dele um precursor dos modernos sistemas teóricos e complexas escolas de pensamento.
Estudo de ossos do braço (c. 1510)

Anatomia

A formação de Leonardo da anatomia do corpo humano iniciou-se com o seu aprendizado no ateliê de Andrea del Verrocchio, seu mestre insistia que todos os alunos deviam aprender anatomia. Como artista, ele rapidamente se tornou mestre da anatomia topográfica, realizando muitos estudos de músculos, tendões e outras características anatômicas visíveis.
Como um artista de sucesso, ele recebeu a permissão para dissecar cadáveres humanos no Hospital de Santa Maria Nuova, emFlorença e mais tarde no hospital de Milão e Roma. Entre 1510 e 1511, colaborou em seus estudos o médico Marcantonio della Torre, e juntos elaboraram um trabalho teórico sobre a anatomia, em que Leonardo fez mais de 200 desenhos. Foi publicado apenas em 1680 (161 anos após sua morte), integrando o Trattato della Pittura.[25] [62]
Leonardo desenhou muitos estudos sobre o esqueleto humano e suas partes, bem como os músculos e nervos, o coração e o sistema vascular, os órgãos sexuais, e outros órgãos internos. Ele fez um dos primeiros desenhos científicos de um feto no útero.[62] Como artista, Leonardo observou e registrou cuidadosamente os efeitos da idade e da emoção humana sobre a fisiologia, estudando em particular os efeitos da raiva. Ele também desenhou muitas figuras importantes que tinham deformidades faciais ou sinais de doença.[25][62]
Ele também estudou e desenhou a anatomia de animais diversos, bem como, dissecando vacas, aves, macacos, ursos e rãs, e comparava seus desenhos em sua estrutura anatômica com o dos seres humanos. Ele também fez uma série de estudos de cavalos.

Engenharia e invenções

Modelos de máquinas voadoras planejados por Leonardo
Durante sua vida, Leonardo era valorizado como um engenheiro. Em uma carta a Ludovico Sforza, o duque de Milão, afirmou ser capaz de criar todos os tipos de máquinas, tanto para a proteção de uma cidade, quanto para o cerco. Quando ele fugiu para Veneza em 1499, encontrou emprego como engenheiro e arquiteto militar e concebeu um sistema de barricadas móveis para proteger a cidade de um ataque naval. Ele também tinha um esquema para desviar o fluxo do rio Arno, um projeto no qual também trabalhou Nicolau Maquiavel.[114] [115] Os cadernos de Leonardo incluem um vasto número de invenções, alguns de possível construção, outros impossíveis. Eles incluem instrumentos musicais, bombas hidráulicas, canhões, entre outros.[20] [25]
Em 1502, Leonardo da Vinci produziu um desenho de uma ponte como parte de um projeto de engenharia civil para o sultão Bayezid IIde Istambul. Nunca foi construída, mas a visão de Leonardo foi ressuscitada em 2001 quando uma ponte menor, baseada no projeto dele, foi construída na Noruega.[116] Em 17 de maio de 2006, o governo turco decidiu construir a ponte de Leonardo para medir o Corno de Ouro.[117]
Por maior parte de sua vida, Leonardo foi fascinado pelo fenômeno de voo, produzindo muitos estudos detalhados do voo dos pássaros, incluindo o seu Codex sobre o Voo dos Pássaros de 1505, bem como planos para várias máquinas voadoras,[25] tentou aplicar seus estudos para os protótipos que desenhou, o primeiro batizado de SWAN DI VOLO (Cisne voador), segundo especialistas é de 1510, inclusive um helicóptero movimentado por quatro homens, e um planador cuja viabilidade já foi provada.[118]

Leonardo, o mito

Monumento dedicado a Leonardo da Vinci e seus pupilos na Piazza della Scala em Milão, obra de Pietro Magni.
Em vida, a fama de Leonardo foi tamanha que o rei da França levou-o como um troféu, o mantendo na velhice, e o tinha preso nos braços quando morreu. O interesse por Leonardo nunca afrouxou. As multidões ainda fazem filas para ver suas obras mais famosas, seu desenho mais famoso, hoje é estampa de camisetas e escritores, como Vasari, continuam a maravilhar-se com seu gênio e especular sobre sua vida privada e, particularmente, sobre o que uma pessoa tão inteligente realmente acreditava intimamente.[25]
Giorgio Vasari, na edição ampliada de Le vite de' più eccellenti pittori, scultori e architettori, 1568,[119] apresenta o seu capítulo sobre Leonardo da Vinci com as seguintes palavras:
No curso natural dos acontecimentos, muitos homens e mulheres nascem com talentos notáveis, mas, ocasionalmente, de uma maneira que transcende a natureza, uma única pessoa é maravilhosamente dotada pelo céu com a beleza, graça e talento em abundância tal que ele deixa os outros homens para trás, todas as suas ações parecem inspiradas e, na verdade tudo o que faz claramente vem de Deus e não da habilidade humana. Todos reconhecem que isso era verdade em Leonardo da Vinci, um artista de beleza física excepcional, que mostrou infinita graça em tudo que ele fez e que cultivou seu gênio tão brilhante que todos os problemas que estudou, ele resolveu facilmente.
A admiração por Leonardo continuou comandada a partir de pintores, críticos e historiadores, refletida em muitas outras homenagens escritas. Baldassare Castiglione, autor de Il Cortegiano ("O Cortesão"), escreveu em 1528: (...) Outro dos maiores pintores nesse mundo olha para baixo sobre esta arte em que ele é inigualável (...),[120] enquanto o biógrafo conhecido como "Anônimo Gaddiano", escreve em 1540: Seu gênio era tão raro e universal, que pode-se dizer que a natureza fez um milagre em seu nome (...).[121]
século XIX trouxe uma admiração especial pelo gênio de Leonardo, fazendo com que Henry Fuseli escrevesse em 1801: Tal foi o alvorecer da arte moderna, quando Leonardo da Vinci quebrou adiante com um esplendor que afastasse a excelência anterior: formada por todos os elementos que constituem a essência do gênio (...)[122] Isto é ecoado por A. E. Rio, que escreveu em 1861: Ele elevou-se acima de todos os outros artistas com a força e a nobreza de seus talentos.[123]
Retrato de Leonardo da Vinci em Le vite, compêndio biográfico escrito porGiorgio Vasari.
Por volta do século XIX, os cadernos de Leonardo já eram conhecidos, bem como suas pinturas. Hippolyte Taine escreveu em 1866: Não pode haver no mundo um exemplo de outro gênio tão universal, tão incapaz de cumprimento, tão cheio de desejo para o infinito, tão naturalmente refinado, tanto à frente do seu século, e os séculos seguintes.[124]
O famoso historiador de arte Bernard Berenson escreveu em 1896: Leonardo é o artista, um dos quais pode-se dizer perfeito literalmente: nada do que tocou se transformou, se não em uma coisa de beleza eterna. Quer seja a seção transversal de um crânio, a estrutura de uma erva daninha, ou um estudo de músculos, ele, com seu sentimento de linha e de luz e sombra, sempre transformou isso em vida, comunicando valores.[125]
O interesse pelo gênio de Leonardo continuou inabalável; especialistas estudam e traduzem seus escritos, analisam suas pinturas com técnicas científicas, discutem sobre atribuições e buscam por trabalhos que nunca foram encontrados.[126] Liana Bortolon, escrevendo em 1967, disse: Por causa da multiplicidade de interesses que lhe incentivou a buscar cada campo do conhecimento (...) Leonardo pode ser considerado, muito justamente, ter sido um gênio universal por excelência, e com todas as implicações inerentes a esse inquietante termo. O homem é como um incômodo hoje, enfrentado como o gênio, como era no século XVI, cinco séculos se passaram, mas continuamos a ver Leonardo com temor.[20]

Notas

  1. Ir para cima
     Esse desenho em giz, é amplamente (embora não universalmente) aceito como um original autorretrato. A principal razão para a hesitação em aceitá-lo como um retrato de Leonardo é que o retrata, aparentemente, mais velho, com uma idade jamais alcançada por ele. Mas é possível que ele tenha desenhado a si mesmo deliberadamente idoso, especificamente para seu retrato como Platão em A Escola de Atenas, afresco de Rafael Sanzio.
  2. Ir para cima
     Em meados do século XV, a Itália não era propriamente um país, sendo formada por pequenos reinos e cidades-Estado independentes, cada qual com o seu próprio soberano, moeda, leis e exércitos. Essas cidades se desenvolviam comercial e culturalmente, visando a ideia amplamente difundida pelos Médicis de tornarem-se centros culturais e exemplos, e, assim, alcançar a imortalidade.[2]
  3. Ir para cima
     Existem 15 obras de arte significativas que são creditadas, tanto inteira, como parcialmente, a Leonardo pela maioria dos historiadores da arte. Este número é formado, principalmente, por pinturas realizadas sobre madeira, mas, também incluem um mural, um desenho grande feito em papel e duas obras que estavam em estágios iniciais de seu preparo. Existem diversas outras obras que lhe foram atribuídas, sem a unanimidade dos acadêmicos.
  4. Ir para cima
     Segundo o crítico de arte britânico, Jonathan Jones, antigo juiz do Prêmio Turner, autoridades florentinas teriam ocasionado uma competição entre Leonardo e Michelangelo, evento que, segundo ele, é de conhecimento dos historiadores, embora pouco discutido. Em seu livro The Lost Batles: Leonardo, Michelangelo and the artistic duel that defined renaissance discute como uma possível competição se desenrolou em torno dos afrescos de A Batalha de Anghiari e A Batalha de Cascina, de Leonardo e Michelangelo, respectivamente, e, apesar de ambos ficarem inconclusos, como Michelangelo teria ganhado a competição em 1506 lhe garantindo uma reputação — o que mais tarde poderia ter resultado na sua participação na Capela Sistina. O autor acredita que a história tenha compensado a derrota de Leonardo, o que foi muito reforçado noséculo XIX, com a redescoberta de seus cadernos e junto sua genialidade.[8]
  5. Ir para cima
     Técnicas científicas modernas como a metalurgia e a engenharia ainda estavam em sua infância durante o Renascimento,
  6. Ir para cima
     Diversas das invenções mais práticas de Leonardo são exibidas como modelos de trabalho no Museu de Vinci.
  7. Ir para cima
     A terceira hora da noite era 10:30 pm, três horas depois da recitação da oração da Ave Maria.[14]
  8. Ir para cima
     No chamado tempo italiano a primeira hora iniciava com o pôr-do-sol; as horas eram numeradas de 1 a 24. Essa forma de contar as horas possuía a vantagem de mostrar facilmente quantas horas ainda restavam sem a necessidade do uso de luz artificial. Foi introduzida na Itália durante o século XIV e foi de uso comum até o meio do século XVIII, ou mesmo até o meio do século XIX em algumas regiões.
  9. Ir para cima
     De acordo com Alessandro Vezzosi, diretor do Museu Leonardo, em Vinci, existem provas de que Piero seria proprietário de uma escrava do Oriente Médio chamada Caterina, e que lhe teria dado um filho chamado Leonardo. A afirmação de que Leonardo teria sangue do Oriente Médio foi corroborada pela reconstrução de uma de suasimpressões digitais, como relatada por Marta Falconi, jornalista da Associated Press,"Experts Reconstruct Leonardo Fingerprint"Fox News, 12 de dezembro de 2001.
  10. Ir para cima
     Algo como "senhor" ou "seu".
  11. Ir para cima
     Este possível acontecimento da criação exclusiva de Leonardo por Caterina no início de sua infância é a base de estudos como o ensaio sobre Leonardo da Vinci realizado porSigmund Freud, em que afirma que Leonardo era homossexual.[13]
  12. Ir para cima
     Que Leonardo teria se juntado à guilda até mesmo antes deste período pode ser deduzido de registros de pagamentos feitos à Compagnia di San Luca no livro de registros da companhia, o Libro Rosso A, 1472–1520 (Accademia di Belle Arti).[18]
  13. Ir para cima
     Esta obra está atualmente na coleção dos Uffizi, Desenho n.º 8P.
  14. Ir para cima
     Atos homossexuais eram ilegais na Florença da época.
  15. Ir para cima
     Em 2005, o ateliê foi redescoberto durante as obras de restauração de um edifício ocupado por 100 anos pelo Departamento de Geografia Militar.[38]
  16. Ir para cima
     As duas obras perderam-se com o tempo; a pintura de Michelangelo é conhecida apenas através de uma cópia de Aristotole da Sangallo, 1542.[39] A pintura de Leonardo é conhecida hoje em dia apenas por seus rascunhos preparatórios e por diversas cópias feitas da seção central — das quais a mais conhecida, e provavelmente a menos fiel à original, é a de Peter Paul Rubens.[18]
  17. Ir para cima
     D'Oggione é conhecido em parte por suas cópias contemporâneas da Última Ceia.
  18. Ir para cima
     Não se sabe para que ocasiões o leão mecânico teria sido construído, porém acredita-se que ele tenha sido usado para saudar o rei em sua entrada em Lyon, e talvez tenha sido usado também nas negociações de paz entre o rei francês e o papa, em Bolonha. Uma recriação do leão, a partir de especulações, foi feita e está em exibição no Museu de Bolonha.[44]
  19. Ir para cima
     Clos Lucé, também conhecido como Cloux, é atualmente um museu público.
  20. Ir para cima
     "Leonardo da Vinci, que mais posso dizer? Seu gênio divino e sua mão divina lhe mereceu expirar sobre o peito de um rei. A virtude e a fortuna velam, prêmio aos grandes gastos, neste monumento que lhe corresponde." — Vasari.
  21. Ir para cima
     No dia da morte de Leonardo, um edito real foi proclamado em Saint-Germain-en-Laye, a dois dias de viagem de Clos Lucé; isto normalmente é tido como prova de que o rei Francisco estaria presente ao lado do leito de morte do artista. White, no entanto, indica em Leonardo: The First Scientist que o edito não foi assinado pelo próprio rei.
  22. Ir para cima
     O historiador Edward McCurdy, citado no livro Jaulas Vazias, do filósofo e professor emérito Tom Regan, menciona: "a mera ideia de permitir o sofrimento desnecessário e, mais ainda, de matar, era abominável para ele". Segundo os relatos verificados por Regan, o inventor adotou uma dieta vegetariana na infância, por razão de evidentes éticas pessoais. Leonardo teria atacado a prática do consumo de carne com as seguintes palavras: "Rei dos animais — é como o humano descreve a si mesmo — eu te chamaria Rei das Bestas, sendo tu a maior de todas — porque as ajudas só para que elas te deem seus filhos, para o bem da tua goela, a qual transformaste num túmulo para todos os animais."
  23. Ir para cima
     Um bom pintor tem dois principais objetos para pintar: o homem e a intenção de sua alma; o primeiro é fácil, o segundo é mais difícil, pois ele tem que representá-lo pelas atitudes e movimento dos membros. — Leonardo da Vinci.[54]
  24. Ir para cima
     Descrição do vestuário de Bernardo di Baroncelli por Leonardo da Vinci: Uma pequena touca cor de bronze. Uma parelha de sarja preta. Um justilho preto, forrado, e o colarinho coberto com veludo pontilhado preto e vermelho. Um casaco azul forrado com peles de raposas. Mangas pretas. Bernardo di Baroncelli."[67]
  25. Ir para cima
     A descoberta da perspectiva linear no século XV, facilitou aos artistas a representação de distâncias em superfícies planas; os ângulos como paredes seguem a linhas com um único ponto de convergência chamado de ponto de fuga,[69] obtendo-se assim, um sutil efeito tridimensional. Para pintores como Albrecht Dürer, exemplifica Nicolau Sevcenko, a expressão perspectiva significa "ver através", e complementa: essa impressão inédita de olhar-se para uma parede pintada e parecer que se vê para além dela, como se ali tivesse sido aberta uma janela para um outro espaço, o espaço pictórico, era o principal efeito buscado pelos novos artistas. A pintura tradicional, gótica ou bizantina, praticamente se restringia ao plano bidimensional das paredes, produzindo no máximo um efeito decorativo. O novo estilo artístico multiplicava o espaço dos interiores e, com a preocupação de dar às pessoas, objetos e paisagens retratados a aparência mais natural possível, parecia multiplicar a própria vida.[70]
  26. Ir para cima
     Os ensaios escultóricos da década de 1470 eram principalmente executados em terracota, Leonardo os utilizava como modelo para suas obras pictóricas, isso explica o volume presente em algumas pinturas desse período, como a Virgem do Cravo.
  27. Ir para cima
     Nossa Senhora das Neves.
  28. Ir para cima
     "Homem sem estudos", é uma autodeclaração de Leonardo, utilizada possivelmente para designar suas próprias limitações ou interesses; sendo comparável ao "Só sei que nada sei" de Sócrates.
  29. Ir para cima
     Alta Renascença cronologicamente engloba os anos finais do Quattrocento e as primeiras décadas do Cinquecento, sendo delimitada aproximadamente pelas obras de maturidade de Leonardo da Vinci (a partir de c. 1480) e o Saque de Roma em 1527. É a fase de culminação do Renascimento, que se dissipa, mal é atingida, mas seu reconhecimento é importante porque aqui se cristalizam ideais que caracterizam todo o movimento renascentista: o humanismo, a noção de autonomia da arte, a emancipação do artista de sua condição de artesão e equiparação ao cientista e ao erudito, a busca pela fidelidade à natureza, e o conceito de gênio, tão perfeitamente encarnado em Da Vinci,Rafael e Michelangelo, e se a passagem da Idade Média para a Idade Moderna não estava ainda completa, pelo menos estava assegurada sem retorno possível. Eventos como a descoberta da América e a Reforma Protestante, e técnicas como a imprensa de tipos móveis, transformam a cultura e a visão de mundo dos europeus, ao mesmo tempo em que a atenção de toda a Europa se volta para a Itália e seus progressos e as grandes potências da FrançaEspanha e Alemanha desejam sua partilha, fazendo dela um campo de batalhas e pilhagens, e com isso espalhando sua arte e influência por uma vasta região do continente.[81] [82] [83]
  30. Ir para cima
     Nesse período as pinturas de Da Vinci revelam um conhecimento e uma desenvoltura excepcionais na sua vertente anatómica, resultado dos seus imensos e incansáveis estudos no âmbito assunto e, por isso torna-se mestre nessa ciência.
  31. Ir para cima
     A Virgem dos Rochedos (por vezes chamada de Madona dos Rochedos), é o título utilizado para designar um conjunto de duas pinturas de composições quase idênticas, que foram, pelo menos em sua maior parte, pintadas por Leonardo da Vinci. Estas versões estão atualmente no Museu do LouvreParis e National GalleryLondres.
  32. Ir para cima
     Desde o abandono do retrato de perfil, pintores tornaram-se particularmente atentos aos gestos das mãos.
  33. Ir para cima
     Leonardo buscava por rostos ideais para a caracterização de Jesus e o seu traidor.
  34. Ir para cima
     Se Vasari viu ou não a Mona Lisa é motivo de controvérsias; a opinião de que ele nãoteria visto a pintura baseia-se principalmente no fato de que ele descreve a Mona Lisa comsobrancelhas. Daniel Arasse, em Leonardo da Vinci, discute a possibilidade de que Leonardo poderia ter pintado o retrato com sobrancelhas, e tê-las removido posteriormente (sobrancelhas estavam "fora de moda" em meados do século XVI).[25] A análise da pintura feita através de exames em aparelhos de alta resolução, por Pascal Cotte, revelou que a Mona Lisa, de fato, teve sobrancelhas e cílios, que foram removidos mais tarde.[101]
  35. Ir para cima
     Jack Wasserman menciona o "tratamento inimitável das superfícies" desta pintura.[41]

Fontes: 

https://pt.wikipedia.org/wiki/Leonardo_da_Vinci

https://www.youtube.com/watch?v=W2u_vZgNVUU



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